Familiares, amigos e fãs do apresentador, ator e produtor musical Luiz Carlos Miele se reuniram na manhã desta quinta-feira (15) para prestar homenagens ao artista, encontrado morto na manhã de quarta-feira em sua casa no Rio de Janeiro. O velório de Miele começou por volta das 7h na Câmara dos Vereadores, no centro da cidade, aberto ao público. O corpo será enterrado no Cemitério do Caju, às 16h.
O ator Osmar Prado prestou suas últimas homenagens e procurou ficar junto aos familiares. Ele disse que era vizinho de Miele em São Conrado, na Zona Sul do Rio, e que os dois haviam marcado um encontro que deveria acontecer em breve. "Ia acontecer agora mas ele deu um drible de Mané Garrincha", falou. Prado ressaltou o talento de Miele ao defini-lo como "um artista magnífico". "É triste, mas ele teve a morte dos iluminados, morreu dentro de casa, não sofreu numa cama de hospital, não ficou entrevado. O que fica dele é o humor fino, a classe, o sorriso de Elis Regina, grande parceira dele. Lamento porque ficamos mais pobres", afirmou.
Fernanda Torres contou que falou pela última vez com Miele sobre o lançamento da biografia dele neste ano, "Miele, o Contador de Histórias". "Ele era maravilhoso, Miele era um monumento. Fez parte da minha história e Deus me deu essa chance de ser parceira dele. Deus não o chateou também, ele viveu até o talo", disse a atriz, que se emocionou muito ao consolar a mulher do apresentador, ator e produtor musical.
O cantor Roberto Carlos entrou no saguão da Câmara dos Vereadores por uma entrada lateral. De óculos escuros, ele consolou a mulher de Miele e falou à imprensa sobre a amizade que tinha com o produtor musical. "Era uma amizade muito grande. Tinha um talento imenso. A gente vai sentir muita falta dele", lamentou.
"Miele foi muito importante na minha carreira. Meu primeiro show com grande produção foi dele. Teve no Canecão e depois outros. Miele é um irmão para mim. Vai deixar muita saudade e vai fazer uma falta muito grande", completou. Mesmo com uma passagem rápida pelo velório, Roberto causou tumulto. Ele deixou o local pelo acesso exclusivo aos vereadores e escoltado por quatro seguranças.
A atriz Mariana Ximenes também se solidarizou com a mulher de Miele. "Ele era uma pessoa sagaz, muito bem-humorada. A característica mais marcante dele era a alegria de viver. Era um grande companheiro, fizemos dois filmes juntos. Vou levá-lo aqui no coração", afirmou.
Lúcio Mauro Filho lembrou de como Miele era querido por todos que o conheciam e falou da experiência de interpretá-lo nos cinemas. "Acabei de fazê-lo no cinema, no filme 'Elis'. Tive a oportunidade de me despedir dele sem saber. Ele foi lá, eu vestido de Miele no Beco das Garrafas. Foi bem especial", disse.
"Meus filhos também tiveram a chance de se despedir do tio Miele. Ele era amigo do meu pai, a gente se conhecia desde sempre", completou Mauro Filho, que teve a oportunidade de fazer com Miele a peça "O Mágico de Oz". Ele falou que pretende fazer uma homenagem: "Ele ia participar do show de bossa nova que apresento com o Celso Fonseca nesse fim de semana. Mas vai ter homenagem, tem uma cena que é toda em cima dele que a gente toca "Over the Rainbow".
O ator Francisco Cuoco disse preferir pensar que Miele não morreu, mas "saiu de cena", e destacou que o ator era bom não somente no palco, mas também como jogador de futebol. "Ele me levou para o clube dos 30, a gente jogava futebol nos fins de semana com Armando Nogueira, muita gente. Vai deixar muita saudade, ele sabia viver. Não tinha inimigos, estava sempre contando uma piada. Tinha um talento insuperável, único. Muito obrigado por tudo, Miele", despediu-se.
"Ele lançou o livro, queria lançar mais um CD. Dizia que não sabia quanto tempo teria de vida. Só tenho a agradecer a ele por ter permitido que eu fizesse parte da vida dele. Aprendi muito. Miele foi uma das pessoas de mais bom caráter que conheci"
Vânia Barbosa, empresária de Miele
Empresária de Miele, Vânia Barbosa lembrou da parceria de 15 anos e que no últimos tempos ele estava muito empenhado em "fazer tudo ao mesmo tempo".
"Ele lançou o livro, queria lançar mais um CD. Dizia que não sabia quanto tempo teria de vida", disse. "Foi uma surpresa. Nunca teve problema do coração. Tinha asma, mas usava bombinha. Foi um mal súbito, foi fulminante", lamentou. "Só tenho a agradecer a ele por ter permitido que eu fizesse parte da vida dele. Aprendi muito. Miele foi uma das pessoas de mais bom caráter que conheci", declarou.
O cineasta Luiz Carlos Barreto se recordou de quando convidou Miele para fazer parte do elenco do filme "Estrela Sobe". "Ele perguntou: "É ponta ou papel principal?". Eu disse que era papel para o Miele, e ele acabou fazendo um dos papeis mais importantes, de apresentador", considerou.
Barreto também comentou a definição de showman dada ao artista multi-talentoso: "Antigamente se chamava showman, mas hoje em dia ele seria chamado de homem multimídia. Tinha um humor excepcional e teve a morte que merecia, em paz, sem agonia. Eu estou com 87 anos, espero daqui a pouco jogar umas peladas com ele".
O pesquisador musical Ricardo Cravo Albin disse que conversou com Miele pouco antes dele morrer. "Ele me perguntou se eu havia lido sua biografia, eu disse que sim e que ele já poderia entrar para a Academia Carioca de Letras, que nós o receberíamos muito bem. Ele disse que não queria. 'Primeiro porque eu nasci em São Paulo. Segundo, porque já sou imortal'", lembrou. Em seguida, disse que irá sentir a falta do amigo: "É muito difícil ir a uma apresentação, um grande encontro musical, e não ver o Miele apresentando, bebendo seu uísque".
O cantor Simoninha, filho de Wilson Simonal, falou do que para ele significa a morte do artista em relação à cultura brasileira. "É natural que com o fim da história do Miele termine também uma parte da cultura no Brasil. A lição que ele deixa é sempre procurar fazer o melhor, se entregar com muito amor à arte acima de tudo", refletiu.
O ator Antonio Pitanga, pai da atriz Camila Pitanga, se disse honrado por ter tido a experiência de conhecer o showman. "Conheci Miele no Beco das Garrafas com Elis Regina, Simonal. Tinha muito carisma. A matéria se vai, mas as lembranças são eternas. A gente não veio aqui para chorar, mas para recordar. Ele cumpriu sua missão", declarou.
Amigos e familiares de Miele enviaram coroas de flores ao ator. Anita, mulher de Miele, o amigo Agnaldo Timóteo e empresas de comunicação fizeram suas homenagens.
Artista de múltiplos talentos, Miele trabalhou com música, televisão, humor, teatro. Na televisão, um dos seus últimos trabalhos foi em "Geração Brasil", no papel de Jack Parker, em 2014. No mesmo ano, participou da competição Dança dos Famosos, no "Domingão do Faustão", e da minissérie "A Teia", como o ex-senador Walter Gama. Em 2015, fez participações na novela "Boogie Oogie", como ex-gerente da boate Vogue, e no humorístico "Tomara Que Caia".
Em setembro deste ano, o apresentador disse ao UOL que sentia saudades de trabalhar na TV. "Eu acordo com saudade, estou desde a inauguração da TV. Sinto-me muito deslocado fora da TV, mas tudo tem seu momento na carreira. É preciso saber administrar e não se desesperar. A cada dia espero ser chamado para alguma coisa nova na TV. Se alguém da televisão me ligar, eu digo 'É só me dizer a hora e a roupa'", afirmou.
Última entrevista na TV
Miele concedeu sua última entrevista na televisão a Jô Soares, seu amigo de longa data. A participação no "Programa do Jô", gravada na terça-feira da semana passada, foi exibida nesta quarta.
Sem saber que aquele viria a ser seu último encontro com Jô, o produtor musical cantou uma paródia da música "Ela é carioca", de Tom Jobim", em homenagem ao apresentador.
Visivelmente comovido com a letra, Jô encerrou o programa agradecendo Miele. "Ele sempre dá um jeito de me emocionar", disse o apresentador.
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