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Profissionais da Globo viram alvo de violência e intimidação; veja casos

Débora Miranda

Do UOL, em São Paulo

11/06/2020 04h00

Eu tenho consciência de que sou um símbolo. Simbolizo muitas coisas para muitas pessoas, que não me conhecem, não sabem quem eu sou.

A frase de William Bonner, reação diante das ações de intimidação que ele e a família vêm recebendo, talvez sirva para definir também o episódio de violência que envolveu hoje as jornalistas Marina Araújo e Renata Vasconcellos —parceira de Bonner no "Jornal Nacional".

Um homem invadiu a sede do jornalismo da Globo, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, portando uma faca. As primeiras informações são de que ele queria falar com a apresentadora do "JN" —que aniversaria hoje. O homem, ainda não identificado, fez a repórter Marina Araújo de refém, mas acabou preso.

Fato é que, por motivos variados, mas especialmente por questões políticas, a Globo e seus profissionais têm se tornado alvos frequentes de intimidação e agressão —tanto equipes que trabalham nas ruas quanto jornalistas que atuam nos estúdios.

Bonner e família: dados pessoais e fraude

No mês passado, William Bonner e sua filha receberam, via WhatsApp, mensagens vindas de um número com código de área de Brasília, contendo uma lista de endereços relacionados a ele e números de CPFs do jornalista, de sua mulher, seus filhos, pai, mãe e irmãos.

A Globo publicou uma nota oficial em que definia o caso como tentativa de intimidação. "William Bonner é um dos mais respeitados jornalistas brasileiros e nenhuma campanha de intimidação o impedirá de continuar a fazer o seu trabalho correto e isento. Ele conta com o apoio integral da Globo e de seus colegas, e está amparado pela Constituição e as leis deste país."

Pouco antes, Bonner já havia ido a público para denunciar o uso dos dados de um de seus filhos em uma fraude envolvendo o auxílio emergencial de R$ 600 dado pelo governo federal a cidadãos em situação de risco por conta da pandemia do coronavírus.

Em entrevista a Pedro Bial, o apresentador do "JN" reclamou da intolerância e contou que em 2018 a sua presença em locais públicos se tornou inviável.

Era motivadora de tensões. Percebi isso de maneira muito ruim, dentro de farmácias, de padarias, no cinema. Verbalmente agredido, insultado.

Ele ainda acrescentou que passou a viajar apenas de carro: "Não podia pegar um avião com tranquilidade nem para visitar um parente doente".

Links ao vivo invadidos

Alguns repórteres vêm se tornando alvos do público nas ruas. O jornalista Renato Peters foi um deles. Em abril, ele fazia em um link ao vivo com Cesar Tralli no telejornal "SP1", quando uma mulher invadiu a transmissão e arrancou o microfone de suas mãos, gritando: "A Globo é um lixo e Bolsonaro tem razão".

O repórter passava informações sobre pacientes internados com coronavírus no Hospital Geral da Cachoeirinha, na zona norte de São Paulo.

Quatro dias depois, outra ocorrência semelhante. A repórter Mariana Aldano fazia uma entrada ao vivo no "SP1", da porta de uma agência da Caixa Econômica Federal em Francisco Morato (Grande SP). Dois homens saíram da fila e começaram a gritar "Globo lixo". A imagem foi rapidamente cortada.

Outros repórteres também foram vítimas de violência. Danilo Cesar, da Globo Recife, virou alvo durante a realização de uma reportagem em Cabo de Santo Agostinho, na região metropolitana do Recife, no início do mês. Ele foi empurrado por um homem não-identificado. "Fui caindo em direção ao câmera, que me segurou."

Em maio, o repórter cinematográfico Robson Panzera, da TV Integração, afiliada da Rede Globo em Minas Gerais, também foi agredido enquanto trabalhava, em Barbacena. Um comerciante se aproximou dele gritando "Globo lixo".

Globoplay hackeado

No mês passado, hackers enviaram notificações para a base de usuários do Globoplay, plataforma de streaming da Globo. De acordo com a empresa, o ato de "cibervandalismo" não atingiu nenhuma informação dos assinantes. A Globoplay lamentou o ocorrido se desculpou com os usuários.

"A Globo e o Globoplay levam a segurança de seus clientes e usuários muito a sério. Reconhecemos o inconveniente causado, mas reforçamos: nenhum dado de nossos usuários foi comprometido. O incidente se limitou a um sistema periférico e a uma única conta, já identificada e eliminada", afirmou a emissora por meio de nota.

Não houve nenhuma informação a respeito da motivação dos hackers.