Livro do “Tá no Ar” revela bastidores e como nasceram os maiores sucessos
Mauricio Stycer
07/03/2017 04h01
Nascido com a ambição de "buscar novos caminhos para a comédia", rir de assuntos que não estavam na pauta de outros humorísticos e dialogar com um público jovem que não liga mais a TV, o "Tá no Ar" pode ser considerado um dos maiores acertos da Globo nestes últimos anos.
Com quase tantas fotos quanto textos, reproduções de trechos de roteiros e recurso (QR code) para acessar inúmeros vídeos do humorístico, o livro busca reproduzir a experiência que os fãs já têm na televisão. Escrito por Alexandre Pimenta, um dos redatores do "Tá no Ar", a obra revela bastidores, mostra como nasceram alguns de seus maiores sucessos e conta quais são os princípios e valores do programa.
Definido o tema, o universo da televisão, passou-se ao formato: a TV dentro da TV. Escreve Pimenta: "Uma programação em que o telespectador perde o poder de mudar de canal. O zapear é controlado por outra 'pessoa', navegando aleatoriamente pela variedade de atrações disponíveis. O ritmo acelerado simula a nossa frenética relação com o controle remoto, na incansável busca pelo 'programa perfeito'. Os esquetes são fragmentos de canais que constroem um mosaico da televisão e da nossa sociedade. Uma metalinguagem de possibilidades infinitas".
A escolha de um elenco formado por atores não muito famosos foi pensada. "O desejo era dar ao telespectador a sensação de que ele não estava assistindo apenas à Globo, e sim a vários canais diferentes. Por isso, a proposta era escalar rostos menos conhecidos do grande público".
Essa preocupação afeta, também, a forma de realizar os quadros: "Enquadramentos, ritmo, narrativa, o tom de interpretação e todas as outras áreas como fotografia e cenografia deveriam emular o mundo real, dando a sensação de passear por diferentes canais. Essa programação fictícia teria que ser ruim quando necessária, com interferências e imagens de baixa qualidade".
Outro alerta diz respeito às piadas com religião: "A religiosidade é tanto um terreno fértil quanto minado. No 'Tá no Ar', o alvo da crítica é a exploração da fé, e não uma religião ou crença. É da natureza da comédia perseguir os temas espinhosos. No humor não existe o intocável".
Surpreende saber, segundo o livro, que marcas parodiadas pelo programa têm apreciado as piadas. "Algumas marcas capitalizam as paródias e monitoram nas redes sociais a repercussão gerada pelo assunto. Os resultados confirmam que as brincadeiras têm sido positivas para as empresas, provando que o humor é mesmo um bom negócio".
Em tom de "você sabia?", o livro informa: "Em quatro temporadas, o "Tá no Ar" trocou de canal mais de mil vezes — exibindo cerca de 230 programas, 180 comerciais, 200 produtos e marcas, 80 participações especiais, 40 musicais de encerramento, 90 cartelas de classificação indicativa, 30 canções da Galinha Preta Pintadinha e 40 canais de áudio".
"Lembrando que esta famigerada editora publicou no Brasil 'As Crônicas do Gelo e do Fogo' que inspiraram a série 'Games of Thrones'. É essa a mensagem que queres passar? Que o reinado dos Marinho vai perdurar por todo o sempre? Que o inverno na cultura brasileira está chegando? Nem a Editora Globo quis publicar esta troça pseudoliterária".
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
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