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“Tá Brincando” tem mais a oferecer do que a simpatia de Otaviano Costa

Mauricio Stycer

06/01/2019 11h23

Otaviano Costa no palco do programa com Hedla Lopes, Patricia Medrado, Roberto Carvalho, Edinho e Servílio de Oliveira.

A televisão brasileira, como outras, ainda gira muito em torno da figura do apresentador. Bom exemplo disso foi o marketing que precedeu o lançamento de "Tá Brincando", nova atração da Globo que estreou neste sábado (05).

Mais do que as características do programa, um game show destinado a valorizar pessoas com mais de 60 anos, o que mais mobilizou o interesse a respeito da atração foi a escolha de Otaviano Costa para comandá-la.

Depois de cinco anos à frente do "Vídeo Show", o simpático apresentador festejou a oportunidade. "A casa entendeu os códigos que eu vinha enviando nos últimos tempos de querer um novo desafio. Eu não tinha um formato nem uma ideia na cabeça. O que eu queria era uma possibilidade de ampliar minha veia artística."

Depois de assistir ao primeiro episódio, fiquei me perguntando de que maneira "Tá Brincando" pode ampliar a veia artística de Otaviano. Achei legal a ideia do programa, um formato estrangeiro adaptado pela Globo, mas o apresentador não teve quase nenhuma oportunidade de contribuir para o entretenimento.

Ao contrário, o excesso de texto para falar deixou Otaviano preso, com pouca margem de manobra. Um dos recursos que utilizou para tentar imprimir uma marca pessoal foi a modulação da voz, mas não funcionou bem. Gritando, o apresentador transmitiu uma empolgação forçada, que não correspondia ao que o público estava assistindo.

Sem ter visto os VTs realizados antes da gravação do programa, Otaviano ainda se viu na situação de reproduzir seguidamente um erro – um dos participantes, o fisiculturista Roberto Carvalho, de 73 anos, contou que se inspirou em Arnold Schwarzenegger, mas o apresentador insistiu em chamá-lo de "Stallone".

Em contato com o blog, Otaviano afirma que não houve erro, e sim uma ironia. "Carvalho é fã declarado do Arnold 'Chuásnegue', mas é conhecido no seu meio esportivo como 'Stalone'!", disse o apresentador. Faltou, porém, explicar isso no programa.

O melhor momento de Otaviano ocorreu no final, no quadro "Os Impressionantes". Ele saltou de paraquedas após conversar com o médico Luiz Schirmer, de 80 anos, que acumula mais de 3.800 saltos. Sem ter muito o que falar, o apresentador expressou durante a experiência um misto de admiração e pavor que pareceu bastante genuíno.

Fiquei com a impressão de que o excesso de foco no apresentador deixou em segundo plano a própria proposta do programa. Num ambiente tão centrado nos jovens e na novidade, "Tá Brincando" é generoso e se arrisca ao colocar no centro do palco personagens idosos.

O programa pode abrir uma janela nova na TV aberta se conseguir ir além da mera curiosidade sobre a vitalidade dos sessentões e setentões convidados e for capaz de mostrar algo, de fato, inspirador. O que conseguiu, diga-se, ao apresentar o médico paraquedista.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.