Novo remake de “Éramos Seis” é aposta segura, mas mostra aversão a risco
Mauricio Stycer
30/09/2019 20h01
Como avaliar a quinta versão de uma mesma novela chamada "Éramos Seis"? Do ponto de vista do espectador que se lembra de uma ou duas das versões mais recentes da história de Maria José Dupré, trata-se de um exercício de memória afetiva e comparação. O que permanece igual? O que mudou? O que está melhor? E pior?
Para um espectador mais jovem, sem estas referências, o remake de Ângela Chaves deve levantar outras questões. O que esta novela ambientada em São Paulo, inicialmente nos anos 1920, tem a dizer? Muita gente acredita na atemporalidade de temas tratados em "Éramos Seis", e talvez estejam certos.
A relação desigual entre Julio (Antonio Calloni) e Lola (Gloria Pires), tema central do capítulo de estreia, é um exemplo importante. O provedor da família se acha no direito de impor as suas vontades e calar as pretensões da mulher e dos filhos.
Outros temas, ainda a serem desenvolvidos, vão comprovar que faz sentido ao espectador de hoje ver uma nova versão da novela escrita por Rubens Ewald Filho e Silvio de Abreu, exibida pela Tupi em 1977 e refeita no SBT em 1994.
Minha questão é outra. Por que não apostar em textos novos? O diretor de Teledramaturgia da Globo, em recente evento na emissora, falou com orgulho da missão a que tem se dedicado – a revelação de novos autores.
"Fico muito feliz de, desde ter assumido aqui, já ter revelado 17, 18 novos autores. Porque eu achava que uma das coisas que faria a novela ter continuidade seria ter novos autores, novas ideias, porque senão o gênero iria morrer", disse Silvio de Abreu em agosto, na inauguração dos novos estúdios da Globo.
Ângela Chaves está entre estes novos autores. Ela é coautora, junto com Alessandra Poggi, da supersérie "Os Dias Eram Assim" e agora assina a versão da novela das 18h.
Com tantos novos autores e tantos projetos apresentados, não havia nenhum merecedor de ocupar o horário das 18h? Por que fazer mais uma versão de "Éramos Seis"?
Creio que a resposta é simples: aversão a risco. O sucesso das duas versões anteriores, a força de alguns personagens, em especial Lola, o apelo humano da trama, o seu desenvolvimento temporal, enfim, um conjunto de elementos que faz de "Éramos Seis" uma aposta segura, como se viu no capítulo de estreia. Mas pouco inspiradora.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
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