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Novela das 9 trata assédio de ginecologista durante exame como humor

Nilson Xavier

17/04/2018 10h59

Ellen Roche e Carlos Bonow (foto: reprodução)

Eu até gostaria de vir a esse espaço e tecer elogios rasgados a "O Outro Lado do Paraíso". Mas, convenhamos, a novela não ajuda! Há qualidades, que, prometo, destacarei em meu próximo texto. Na verdade, estou há tempos querendo escrever, mas sou sempre surpreendido por algo, digamos, inusitado (negativamente) nesta novela!

Era para ser mais uma sequência de alívio cômico na história de Walcyr Carrasco. Já há algum tempo, o ginecologista Elder (Carlos Bonow) sente atração pela paciente Suzy (Ellen Roche). Até aí, não há problema algum se os dois se envolverem, desde que haja o consentimento dela, claro. A não ser que a intenção da sequência seja levantar uma discussão de interesse social, como alertar as mulheres sobre assédio em consultórios médicos.

Mas não. Trata-se de uma cena que era para ser cômica. Se não fosse trágica. Em tempos de Dr. Abdelmassih, foi, no mínimo, de mau gosto.

No capítulo desta segunda (16/04), o médico resolveu assediar sua paciente durante um exame ginecológico. Ela, apenas de avental, diz que a filhinha "é a bebê mais linda desse mundo". No que o médico responde com olhar de segundas intenções: "Se puxar à mãe, será uma bela mulher…". Daí se viu uma sequência insólita em que a paciente deita na maca e o médico começa beijando seus pés e vai subindo à medida que ela levanta o avental.

Tudo bem que ela aceitou o assédio. Mas o assédio não deixa de ser assédio se foi consentido. A questão aqui nem é o assédio puro e simples, mas o fato de ter acontecido no local de trabalho do médico e ele ser um ginecologista. Mas ética profissional para quê, não é mesmo? E bom gosto de cena, para quê?

A sequência toda já começou ruim no diálogo anterior, quando o médico Elder encontrou Suzy com a filha, o marido Samuel (Eriberto Leão) e o casal de médicos Laura e Rafael (Bella Piero e Igor Angelkorte).

Dr. Elder: "Para uma mulher, um ginecologista é tão importante quanto uma bolsa."
Laura: "Às vezes, a bolsa é mais importante!" Oi?! Sim, uma fala vindo de uma médica – aquela que aceitou fazer uma hipnose com uma advogada-coach para diagnosticar um caso de pedofilia.

Até poderia passar batido. Reafirmo, não é mimimi de politicamente correto. Esta foi apenas mais um abordagem equivocada que não deveria estar em pauta em uma novela do horário nobre da TV brasileira. Mais uma para a conta de "irresponsabilidade social" de "O Outro Lado do Paraíso". Leia os demais casos abaixo.

"Texto antiquado banaliza e debocha da prostituição";
"Sem graça e ultrapassado, humor em "O Outro Lado" só reforça preconceitos";
"O Outro Lado e o vale-tudo pela audiência: onde fica a qualidade?";
"Novela das 9 exibe cena bonita sobre amor na velhice, mas erra feio depois".

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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