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Ao sair da Globo, Rodrigo Faro prometeu: "Vocês vão me querer de volta"

Colunista do UOL

28/11/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Em entrevista exclusiva, apresentador conta como foi sua saída da Globo para realizar o sonho de comandar o próprio programa
  • Ele fala da boa relação com a Record e conta que nunca ouviu um "não" da emissora para seus projetos ou ideias
  • Faro conta que foi criado apenas por mulheres, que o pai era alcoólatra, e que isso mudou sua perspectiva de mundo
  • Revela, ainda, que não tem vergonha de ser rico e que não pensa em parar de trabalhar, apesar de querer desacelerar o ritmo

"Você nunca mais pisa aqui!" Foi com essas palavras que a Globo, através de um de seus diretores, despediu-se de Rodrigo Faro quando ele anunciou que queria deixar a emissora para apostar no sonho de ser apresentador na Record.

Hoje, 11 anos depois e com uma sólida e bem-sucedida carreira no comando de programas como Ídolos, O Melhor do Brasil e Hora do Faro, não há dúvidas de que a resposta que ele deu ao tal diretor foi uma promessa que se cumpriu. Na época, disse: "No dia em que eu tiver o meu microfone, eu vou ser um dos maiores apresentadores deste país. E não vou precisar pisar aqui".

Faro se esquiva de falar sobre a possibilidade de ocupar o lugar de Fausto Silva, após uma eventual aposentadoria do apresentador do Domingão. "Vou fazer o quê, lá na Globo? Deixa o Faustão. Ele está arrebentando e vai ficar muito tempo lá", afirma.

A boa relação com a Record também deve mantê-lo longe da Globo ainda por uns bons anos. O apresentador diz que se sente em casa na emissora, revela que nunca recebeu um "não" e conta que sente muita gratidão. "Quando o programa arrebenta, me ligam para me dar parabéns. Diferentemente da Globo, eles sabem valorizar quem está com eles."

Filho de mãe professora e de um pai ausente e com problemas com o alcoolismo, Faro cresceu cercado pelo mundo feminino e diz que isso fez com que seu olhar para o mundo tenha mais nuances. Pai de três meninas —Clara, Maria e Helena—, ele afirma que talvez não soubesse criar um filho homem, hoje em dia, porque "é tudo rosa em casa". Revela, ainda, que não pretende ter mais filhos e que fez vasectomia.

Sobre o fato de interpretar Silvio Santos, um de seus maiores ídolos, no cinema, Rodrigo diz que pediu a bênção do apresentador. "Eu não faria o filme sem ele gostar. E ouvir dele 'Ninguém melhor do que você, o garoto de ouro da Record, para viver a minha história' me fez zerar minha vida de comunicador naquele dia", conta.

Rodrigo Faro - Divulgação - Divulgação
Rodrigo Faro diz que sente gratidão pelo trabalho na Record
Imagem: Divulgação

Leia, abaixo, trechos da entrevista:

Leo Dias - Você está há 11 anos na Record, em uma carreira brilhante como apresentador. Voltando no tempo, quais foram as suas dúvidas para trocar a Globo pela sua emissora atual?

Rodrigo Faro - As dúvidas eram deixar a Globo. Eu tinha uma carreira sólida, promissora, dez anos de casa, tinha feito grandes papéis, novelas do Walcyr Carrasco —que até hoje brinca que eu era o talismã dele. O Ídolos era um programa de três meses, podia não ter mais, e eu ia dançar. Eu ganhava cerca de R$ 30 mil na Globo e passaria a ganhar algo em torno de R$ 50 mil. Não era uma paulada. Foi risco.

Como foi a saída?

Na hora em que falei que queria ir para a Record, o cara da Globo berrava: "Mas você vai embora? Vai deixar a emissora número 1 do Brasil para ir para uma aventura? Você nunca mais pisa aqui!". Fiquei sem saber o que falar. Aí, eu fechei o olho e escutei no meu ouvido algo dizendo "Vai! Peita!". Aí, falei: "Eu estou indo embora, mas vocês ainda vão ouvir falar muito de mim. Estou assinando quatro anos de contrato. Em quatro anos, o senhor pode não estar sentado nessa cadeira, eu posso não estar mais vivo, o senhor pode não estar mais vivo, mas eu só quero deixar algo bem claro: o dia em que eu tiver o meu microfone, eu vou ser um dos maiores apresentadores deste país. E não vou precisar pisar aqui. Um dia, vocês vão me querer de volta".

E a chegada na Record?

Eu vim para a Record para apresentar o Ídolos. Na semana que eu tinha assinado o contrato, o Marcio Garcia anunciou que iria sair. Aí, me ligaram e disseram que eu seria também o apresentador do programa que ele fazia e já era um sucesso. Eu falei: "Meu Deus, e agora?" Perguntaram se eu topava, eu falei que não estava preparado para assumir um programa de auditório, mas disseram que eu daria conta. Falaram: "Estão aqui os DVDs com os quadros do programa. Aprenda. Segunda-feira você grava". Aí, eu morri. No dia, eu entrei, fiz uma oração no palco, e ali começava a minha trajetória como comunicador. Nervoso, berrando, gritando para caramba [risos].

Você tinha medo das comparações com o Marcio?

Eu morria de medo das comparações, mas falei: "Vou para o ar, se eu errar, vou dar risada, vou brincar. Eu vou fazer todas as loucuras que eu fazia nos bastidores das novelas da Globo na frente da televisão".

Rodrigo Faro - Divulgação - Divulgação
O apresentador comanda os domingos da Record
Imagem: Divulgação
Você sabia que o seu grande lance era o humor?

Sabia. Eu não podia ser igual ao Marcio. Então, comecei a colocar humor. Quando o Michael Jackson morreu, decidi criar o tal do Dança, Gatinho, que foi um marco da minha história. Foram mais de 300 apresentações. As pessoas esperavam. Aí, percebi o que as pessoas queriam ver, e foi esse o caminho, sem limite de vergonha.

Você já recebeu algum "não" na Record?

Nunca. Eu vivi a Beyoncé fazendo Single Ladies aqui. Priscila, a Rainha do Deserto, um filme com temática LGBT, a Record não se opôs. Todo o mundo entendeu o espírito da brincadeira.

Mas você não acha que o fato de você não receber "nãos" tinha uma relação direta com o Ibope que você dava?

Não, porque o programa já respondia bem no Ibope antes. O Dança, Gatinho era a cereja do bolo. Acontece que, com o quadro, ele explodiu, foi para primeiro lugar. Em alguns momentos, chegava perto da novela das oito da Globo. Teve um dia em que a gente passou a novela Passione [Globo, 2010]. Então, nunca ninguém chegou para mim e disse: "Não faça isso". É claro que, agora, no domingo, eu tomo mais cuidado, porque tem criança assistindo.

O Hora do Faro é do jeito que você queria?

O Hora do Faro é um programa que me deixa cantar, dançar, pôr a roupa que eu quiser, atuar... Eu posso fazer o que eu quiser. É o melhor dos mundos. Então, eu me sinto em casa.

Como é a sua relação com a Record?

Uma coisa que eu sempre tive aqui, na Record, e eu acho que é o sentimento mais bonito que existe é gratidão. Quando o programa arrebenta, me ligam para me dar parabéns. Diferentemente da Globo, eles sabem valorizar quem está com eles. Na época do Boni na Globo tinha isso. Ele mandava flores para as atrizes. As pessoas se sentiam acarinhadas, prestigiadas, e aqui eu me sinto assim. Eu sinto o carinho que eles têm. Vira e mexe, vou lá tomar um café, a gente fica conversando. É muito saudável.

Há quantas anda o filme sobre o Silvio Santos?

Em fase de captação de recursos... Acho que ainda falta alguma coisa. O problema é que eu só posso rodar o filme em janeiro, por causa das minhas férias. Se não captar até janeiro, eu não vou conseguir rodar agora, só em janeiro do outro ano. Eu não posso parar a vida para rodar o filme.

Você foi pedir a bênção ao Silvio para fazer o filme?

Eu não faria o filme do maior apresentador do Brasil sem ele gostar. Se isso não agradasse ao Silvio, eu jamais iria fazer. Um dia, pedi para falar com ele, através de um amigo em comum. Ele me recebeu, e a gente conversou durante uns 15, 20 minutos antes de uma gravação. Ele perguntou como era o roteiro, e perguntei se ele gostava da ideia. O Silvio disse que só me responderia no palco. Ele queria que eu participasse do Jogos dos Pontinhos. E o que ele me disse lá, não tem como eu não me emocionar novamente ao lembrar. Não vou esquecer nunca mais. Ele falou: "Ninguém melhor do que você, o garoto de ouro da Record, para viver a minha história". Nesse dia, eu zerei a minha vida de comunicador.

A Wikipedia diz que você tem um patrimônio de R$ 130 milhões [após a divulgação dessa informação pela Coluna Leo Dias, o valor foi reajustado para R$ 220 milhões]. Isso é verdade? Porque o brasileiro tem vergonha de dizer que é rico, né?

Não vou mentir para você, Leo. É mais. Mas não tenho vergonha de ser rico, não. Tenho orgulho. Sou filho de professora. Meu pai era alcoólatra.

Rodrigo Faro - Divulgação - Divulgação
Faro nos bastidores de seu programa
Imagem: Divulgação

Você perdeu o pai muito cedo, mas quando ele morreu vocês já não tinham mais contato. Não ter a presença de um pai durante boa parte da sua vida afetou você de que forma?

Todos os meus valores, tudo o que eu aprendi na minha vida foi ensinado por mulheres. Tudo. Sobre minha primeira experiência sexual, eu conversei com a minha mãe. Eu conheci o corpo de uma mulher, na época, uma namorada, e fui perguntar para a minha mãe. Isso aos 17, 18 anos. Olha, que legal! O referencial que eu tenho de mulher é ouvir o que uma mulher falou a respeito das mulheres. Hoje, eu vejo o mundo pelo olhar de uma mulher, e isso faz com que o meu mundo tenha muito mais nuances. Qual é o mundo masculino? Se dar bem na vida, dinheiro, carro, mulher, jogar futebol no final de semana, tomar uma cervejinha, e acabou o mundo do homem. E o mundo da mulher? A quantidade de coisas que existem, as nuances... Você pergunta para uma mulher se está tudo bem e tem que se preparar porque vem uma resposta cheia de coisas... Eu acho que o mundo visto pelo olhar das mulheres é muito mais bonito. E Deus ainda me deu só filha mulher.

Você sonha em ter um filho homem?
Eu acho que eu não saberia mais criar um filho homem, porque é tudo rosa em casa. Imagina! Se viesse um filho homem, agora, ele teria que se adaptar a uma vida cor-de-rosa, a um pai que se oferece para as filhas o maquiarem.

Mas você quer ter mais filhos?

Não, eu já fiz vasectomia. Fiz porque acho uma tremenda sacanagem fazer minha mulher tomar anticoncepcional. Se a gente pode ir em uma sexta-feira, o cara faz um buraquinho no saco, corta um pedacinho e está tudo certo, por que eu vou fazer a minha mulher ficar se envenenado com anticoncepcional? Se eu posso em 15 minutos resolver isso?

Você se vê trabalhando até quando?

Não sei... Eu penso em desacelerar. Eu quero. Sei lá, trabalhar umas duas vezes por semana...

Ter uma vida como a do Faustão, do Luciano Huck?

Poxa, a vida do Faustão é uma maravilha, mas ele já ralou muito. Já o Luciano ainda trabalha muito. Cada hora ele está em um lugar diferente do Brasil, do mundo. Mas eu acho que eu ainda tenho que comer muito arroz com feijão, comer muita poeira para chegar nesse patamar deles.

Você já recebeu alguma crítica muito ruim?

Não. Toda crítica é construtiva. Eu leio tudo. Eu nunca levo para o pessoal. O dia que eu levar para o pessoal eu vou virar um babaca, porque a função do crítico é analisar o que ele está vendo, e a minha função é ouvir e refletir. Sempre ajuda.

O que você quer mais da sua vida?

O que eu posso querer mais? Estou domingo na Record, com quatro horas e meia de programa. Para onde eu vou? Estou totalmente realizado. Como vou virar para Deus e pedir mais duas horas de programa?

Você pode falar "Deus, eu quero voltar para a Globo", "eu quero ter um programa domingo, na Globo", "quero ter um programa no lugar do Faustão".

Não. Por que eu vou falar "quero voltar para a Globo"? Vou fazer o quê, lá na Globo? Deixa o Faustão lá, cara. Ele está arrebentando. Faustão vai ficar muito tempo lá.

Veja a entrevista completa abaixo e ouça a íntegra da conversa no podcast UOL Entrevista.

Blog do Leo Dias