Tia Má: 'Tem gente preferindo celibato a se submeter a relação abusiva'

Maíra Azevedo, conhecida como Tia Má, é jornalista, influenciadora digital e humorista. Com tantas profissões, um dos seus maiores dons é conscientizar a população das lutas que ainda são necessárias nos dias atuais. Empoderada, dona de si e com posicionamentos contra o racismo, ela faz da sua existência um ato de resistência. A baiana arretada irá lançar seu primeiro livro, "Como se livrar de um relacionamento ordinário", na próxima terça-feira (10), às 19h, na livraria Leitura, no Shopping Bela Vista, em Salvador, e conversou com a Coluna do Leo Dias sobre relacionamento abusivo.

COLUNA DO LEO DIAS - O que te motivou a escrever o livro?

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Quando comecei a postar vídeos falando de empoderamento feminino, que elas têm que se libertar de relacionamento abusivo, dizendo que elas não tinham que se sujeitar a qualquer coisa, recebi muita mensagem pedindo para escrever um livro. Mas eu não me sentia preparada, até que tomei a decisão de compartilhar minhas histórias e como consegui superar cada uma delas. Esse não é um livro de autoajuda, mas de troca de informações onde todo mundo pode ter a sensação de estar conversando com uma amiga ou vai se reconhecer nele.

Você já viveu uma relação abusiva? Como percebeu que estava num relacionamento tóxico e como saiu dele?

Vivi várias relações abusivas, nenhuma que tivesse tido violência física. Eu percebi que estava vivendo uma relação tóxica pela forma que eu ficava apreensiva, com medo, tensa, da forma como estava falando. Até que um dia, eu namorava um cara que comentou da forma que eu andava e eu tentei caminhar de outra maneira. Mas aí comecei a sentir dores nos pés. Ali eu percebi que não tinha mais que me sujeitar aquilo e consegui sair. Não é algo que todos fazem, alguns precisam de ajuda psicológica, mas no meu caso eu saí e comecei a escrever as minhas angústias. A escrita é uma forma de me desvencilhar das coisas que não me servem mais.

Você acha que as pessoas estão vivendo mais relacionamentos abusivos ou se ouve mais sobre o tema porque finalmente não têm medo de expor?

Eu acho que as pessoas não estão vivendo mais relações abusivas, eu acho que nós estamos tendo mais noções sobre o que é relacionamento abusivo. Porque algumas práticas, inclusive, foram tão naturalizadas, tão tratadas como normais e convencionais, que a gente não se dava conta, e com o passar do tempo fomos entendendo que o cara falar da roupa que vestimos, que o cara não permitir que se tivesse amigos homens fez com que a gente entendesse que essas eram posturas machistas e perversas, abusivas, toscas e que impediam o nosso bem viver. Hoje em dia as pessoas estão falando mais sobre isso, e quando você fala sobre isso, motiva que as outras falem também, se posicionem, e isso é muito importante

Como uma pessoa pode se livrar de um relacionamento abusivo e quais os sinais de que ela está vivendo um?

É clichê, mas é verdade: ouça a voz do seu coração! Mas também os comentários ao seu redor. Quando você está numa relação tóxica, quem está perto começa a sinalizar e você perde um pouco do seu brilho e honradez. É importante levar em consideração, mas também notar a forma como você reage quando fala com a pessoa: quando aquela pessoa conversa com você, seu coração dispara? É de emoção, medo ou receio? Você tem medo de encontrar ou ficar sozinha com essa pessoa? Você deixa de fazer algo para agradar essa pessoa? Você já deixou de sair para que essa pessoa não ficasse de mau humor? É fundamental que a gente leve essas coisas em considerações. É aí que você vai perceber se está vivendo ou não um relacionamento abusivo.

Uma mulher pode ser abusiva também?

Uma mulher pode ter comportamentos tóxicos. É importante falar isso. No próprio livro eu digo que ele não está falando apenas de mulheres, mas de todas as pessoas que se identificam com o lado feminino. O lado feminino comumente é o mais vulnerável por conta de toda opressão, mas a gente pode entender que algumas mulheres adotam postura abusiva. Porém, isso não é o mais comum até porque o machismo é estrutural e faz parte do nosso cotidiano. Isso vai reverbera nas nossas relações.

Você acha que mulheres negras têm mais chance de viver um relacionamento abusivo?

As mulheres negras estão mais propensas a viver estágio de solidão, isso faz que elas sejam mais cobradas a encontrarem uma relação. Nessa busca incessante para ter alguém muita gente acaba se submetendo ou sendo submetida a relações abusivas. Por conta dessa relação perversa do racismo e machismo, elas são alvos preferenciais das mais diversas formas de violências, elas são mais oprimidas até por uma questão histórica. Então, sim, elas são mais propensas por conta dessa questão. Mas também existe uma movimentação onde muitas mulheres estão mudando o rumo da história. Onde não estão mais se permitindo se submeter a situações como essa. Tem gente preferindo celibato a se submeter a relação abusiva, por exemplo. Então, a gente tem criado nossas alternativas, como relação afrocentrado, com mais relações monoraciais como forma de garantir nossa sobrevivência emocional.