Há 22 anos, Gilberto Gil já previa e defendia o advento da música sertaneja
A Coluna do Leo Dias publicou ontem uma análise do termo MPB, sempre usado relacionado a cantores que não atingiam a massa, mas sim a elite. Enquanto os artistas que são ovacionados pelo povo são denominados apenas pelos seus ritmos musicais. Lógico, houve críticas. Mas a Coluna recebeu uma relíquia: uma entrevista que Gilberto Gil concedeu ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em que admitia ser da elite e já previa o advento das massas.
Na entrevista, Gil explicou porque a MPB era formada por uma elite intelectual e da pequena burguesia. "A música brasileira era uma norma quase culta, dominada por universitários, com capital em baixo do braço... E fizeram a chamada "boa música". Mas eu pergunto, e daí?", disse Gil que, com sua grandiosidade, defendia a expressão das massas, da periferia. "A escolaridade deles é média ou baixa? Querem que eles escrevam sobre o quê? Mecânica quântica? Não vão.. Mas eu defendo essa música"
De fato, em 1998, Gil estava certo. A grande maioria dos sertanejos vêm de origem simples, não tiveram acesso ao ensino de qualidade, mas tomaram conta da nossa música. Com pensamento inclusivo, Gil parecia festejar esses novos cantores. Gil, de fato, é visionário e, principalmente, inclusivo.
Leia abaixo trecho da fala do cantor na entrevista que foi ao ar há 22 anos:
"Eu tenho, por exemplo, que e a emergência de setores populares, como o pagode, o sertanejo, gente que não tinha espaço, da periferia social brasileira. A música brasileira era uma "norma quase culta", que era dominada pelos universitários, das famílias de classe média, da pequena burguesia, que tinha tido acesso à universidade.. (...) Isso ficou como significado de uma boa música. Mas e ai? Enquanto isso tem uma massa enorme brasileira, nas periferias das cidades, que não fazem parte das estatísticas. O que se faz com eles? Axé music, música sertaneja.. Eu não vejo problema nenhum disso. A escolaridade deles é média ou baixo? Querem que eles escrevam sobre o quê? Mecânica quântica? Não vão. Eu defendo essa música dá a oportunidade de acesso, de expressão, de acesso à renda para eles. Eles hoje estão indo para TV. Eles representam setores populares."
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