Família real britânica tem 'reuniões de crise' após entrevista de Harry e Meghan
Membros do alto escalão da família real britânica se reuniram para discutir a crise provocada pela entrevista do príncipe Harry e de sua mulher, Meghan Markle, à apresentadora de TV americana Oprah Winfrey.
A repórter da BBC que cobre a família real, Daniela Relph, disse que é "cada vez mais insustentável para o Palácio de Buckingham não dizer nada" sobre as manifestações do duque e da duquesa de Sussex (como são conhecidos Harry e Meghan). No entanto ela diz que a família real provavelmente vai evitar responder com pressa à crise.
Na entrevista, Harry e Meghan falaram sobre racismo, saúde mental, tratamento pela mídia e outros membros da realeza.
Uma das principais revelações foi a de que um membro não identificado da família real teria demonstrado preocupação sobre "quão escura" a pele do filho do casal seria.
A declaração foi feita por Meghan à Oprah e, posteriormente, confirmada por Harry na mesma entrevista.
Segundo a apresentadora, o comentário não foi feito nem pela rainha Elizabeth 2ª nem por seu marido, Philip, o duque de Edimburgo.
Até mesmo a Casa Branca se manifestou sobre a entrevista. A porta-voz do presidente americano Joe Biden disse que o presidente elogia qualquer pessoa que tenha coragem de falar sobre saúde mental. A secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, descreveu o príncipe Harry e Meghan como "cidadãos privados" que estavam "compartilhando sua própria história e suas próprias lutas".
Na entrevista, Meghan disse que teve pensamentos suicidas durante a gravidez de Archie e chegou a pedir ajuda ao palácio real, mas não a recebeu.
Repercussão da crise
A entrevista de uma hora e meia foi transmitida no domingo (7/3) pela emissora CBS nos Estados Unidos e foi exibida no Reino Unido pela emissora ITV na noite de segunda-feira (8/3).
O assunto foi capa dos principais jornais do Reino Unido nesta terça-feira.
"A pior crise real em 85 anos" é a manchete do tabloide Daily Mirror. "Palácio em turbulência por causa de acusações de racismo", diz o Times; enquanto o The Sun questiona "Então, quem é o Racista Real?"
"O que eles fizeram?" pergunta o Daily Mail, que afirma que o Palácio de Buckingham está "paralisado de horror e consternação" enquanto o Príncipe Harry é acusado de "explodir sua família".
O The Guardian adverte que a entrevista ameaça ter um "impacto devastador" na reputação da monarquia e "abalou os alicerces da família real".
Já o Telegraph destaca o elogio do presidente dos EUA Joe Biden pela coragem de Meghan, e diz que o Palácio de Buckingham está sob "intensa pressão" para responder às suas alegações do casal.
De acordo com o Times, a Rainha se recusou a assinar uma declaração preparada por oficiais com o objetivo de diminuir as tensões, reivindicando "mais tempo para considerar sua resposta".
"É tão triste ter chegado a esse ponto", diz a manchete do The Express, enquanto o The Daily Star publicou em tom de brincadeira: "Nossa televisão quebrou ontem à noite", diz. "Perdemos alguma coisa?"
O The Sun, um dos principais tabloides do Reino Unido, retrata Harry e Meghan como um casal "cruel, com pena de si próprio e pouco confiável" — mas admite que "eles conseguiram o que queriam" com a entrevista.
Imagens cortadas da edição final "podem causar ainda mais danos" , de acordo com o Daily Telegraph. O diário acusa Harry e Meghan de uma "tentativa deliberada de causar o maior dano possível", e sugere que a principal reclamação do casal "parece ter sido o fracasso em tratá-los como iguais ao duque e à duquesa de Cambridge", em alusão ao irmão de Harry, William, e sua mulher, Kate.
O Metro parece mais simpático, ao escolher uma fotografia recém-lançada de Harry abraçando sua esposa grávida e seu filho para a primeira página, e a manchete, "Só nós quatro agora."
Assunto sério
Kate Green, do Partido Trabalhista, que faz oposição ao governo do primeiro-ministro, Boris Johnson, disse que as afirmações de Meghan eram "realmente angustiantes, chocantes".
Ela disse à emissora Sky News: "Se houver alegações de racismo, espero que sejam tratadas pelo Palácio com a maior seriedade e totalmente investigadas."
O líder trabalhista, Keir Starmer, disse que as alegações de Meghan sobre racismo e falta de apoio à saúde mental deveriam ser levadas "muito a sério".
Questionado sobre a entrevista durante o briefing de coronavírus de segunda-feira (7/3), o primeiro-ministro, Boris Johnson, não quis fazer comentários, mas disse que "sempre teve a maior admiração pela rainha e pelo papel unificador que ela desempenha".
Ele disse que "quando se trata de assuntos relacionados com a família real, a coisa certa para os primeiros-ministros dizerem é nada", após ter sido questionado se acreditava que a família real era racista.
Durante a entrevista, Oprah perguntou a Meghan por que ela achava que a família real não tornou Archie príncipe.
Segundo a duquesa, o título pouco lhe importava e que estava mais preocupada com sua segurança.
"Naqueles meses em que eu estava grávida, nessa mesma época, fomos tendo conversas simultâneas de que ele não teria segurança, não receberia um título, e também preocupações e conversas sobre como sua pele pode ficar escura quando ele nascer", disse Meghan.
Segundo a duquesa, as observações sobre a cor da pele foram feitas para Harry que, então, as relatou a ela.
Os filhos de Harry e Meghan não se tornam automaticamente príncipes ou princesas devido a uma lei que existe desde 1917 — a menos que a Rainha intervenha.
'Prejudicial'
Questionada por Oprah se havia preocupações de que seu filho seria "muito marrom" e isso seria um problema, Meghan disse: "Se essa é a suposição que você está fazendo, ela é bastante segura."
Quando pressionada, Meghan se recusou a revelar quem era o indivíduo, dizendo: "Acho que isso seria muito prejudicial para eles (família real)".
O Príncipe Harry também se recusou a dar mais detalhes, dizendo: "Essa conversa, eu nunca vou compartilhar."
"Quando aconteceu foi estranho, fiquei um pouco chocado", acrescentou.
Harry também disse lamentar que nenhum de seus parentes falou em apoio a Meghan sobre os "tons coloniais" (em que Meghan é retratada como se fosse inferior) das manchetes e artigos da imprensa sobre ela.
"Ninguém da minha família disse nada nesses três anos. Isso dói", disse ele.
O casal se mudou para a Califórnia após renunciar formalmente aos deveres reais em março de 2020. No mês passado, o palácio de Buckingham anunciou que eles não retornariam como membros ativos da família real.
Em um trecho não incluído na entrevista original, o príncipe Harry foi questionado se o casal deixou o Reino Unido por causa do racismo , e respondeu: "Foi em grande parte por isso".
Outras revelações importantes:
O casal anunciou que seu segundo filho, previsto para o verão, é uma menina.
Eles trocaram votos em uma cerimônia comandada pelo Arcebispo de Canterbury em seu "quintal", três dias antes de se casarem legalmente em cerimônia pública em maio de 2018
O príncipe Harry disse que seu irmão e seu pai estavam "presos dentro do sistema" da família real
Ele disse que sua família o cortou financeiramente no início do ano passado e seu pai parou de atender suas ligações
Mas o príncipe disse que amava seu irmão e queria curar seu relacionamento com ele e com seu pai
Meghan disse que ligou para a Rainha depois que o Príncipe Philip foi internado no mês passado
Meghan também disse a Oprah que se sentiu traída pela conduta de seu pai, Thomas Markle, nos preparativos de seu casamento em 2018 com Harry.
Em entrevista ao programa Good Morning Britain da emissora britânica ITV nesta terça-feira (09/03), ele disse que foi a primeira vez que ouviu sua filha falar em vários anos.
"Estou muito desapontado com isso. Pedi desculpas por isso, pelo que aconteceu, pelo menos 100 vezes ou mais", disse ele.
Ele descreveu a entrevista como "exagerada" e inoportuna, mas disse não acreditar que a família real seja racista. Para ele, os comentários sobre a cor da pele de Archie podem ter sido simplesmente uma "pergunta idiota".
Questionado sobre a alegação de Meghan de que ela havia "perdido" o pai, Markle disse: "Estou disponível a qualquer hora para que possamos nos encontrar. Adoraria me reunir com eles. Com certeza gostaria de ver meu neto."
Ele também criticou o apoio do Palácio quando ele e sua família estavam sob intenso escrutínio da mídia, dizendo: "Ninguém estava lá para cuidar de nós, ninguém cuidou de nós".
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