Primeira missão jornalística de Boechat foi acompanhar Pelé no aeroporto
Ricardo Boechat, que morreu aos 66 anos em acidente de helicóptero em São Paulo, tinha apenas 17 anos quando escreveu pela primeira vez para um jornal, o já extinto "Diário de Notícias".
"A primeira oportunidade que tive foi graças ao Pelé, que estava embarcando para o exterior, para receber uma homenagem qualquer, e, naquela tarde, haviam sequestrado um cônsul suíço. A cidade [o Rio] ficou um caos porque a polícia bloqueou tudo, quiseram fazer uma peneira fina em seis milhões de habitantes. Tinha que ir pro Galeão, aeroporto internacional, para pegar o embarque do Pelé, essa era minha missão", contou em entrevista ao site "Memória Globo" em 2000.
"O motorista foi de alguma maneira por contramão, canteiros, ruas secundárias. O fato é que nós chegamos ao aeroporto e só nós pegamos o embarque do Pelé. Fizemos uma foto legenda [jargão jornalístico para um texto muito curto acompanhado de registro fotográfico]. Acabou sendo meu primeiro texto pro jornal e graças ao motorista consegui fazer uma nota exclusiva. Então passei a fazer coisas para o 'Diário de Notícias'."
Em entrevista a um canal do YouTube, voltado para estudantes, em abril do ano passado, ele falou sobre as dificuldades da profissão, contou que é uma atividade que demanda muita dedicação, com rotatividade alta nas redações, mercado competitivo e explicou por que os profissionais muitas vezes abrem mão de feriados, fins de semanas e madrugadas.
"Morre-se de várias coisas no jornalismo, menos de tédio. Dependendo da escolha de vida que você faz, garantir que você não terá tédio, já é uma maravilha, pra mim é fundamental... É um ambiente estimulador, todo dia tem discussão boa. Você nunca vai sentar na mesa com amigos e não vai ter assunto", disse.
Boechat começou por acaso no jornalismo quando buscava o primeiro emprego, uma independência financeira e foi indicado pelo pai de uma amiga, que era diretor começar do jornal.
"Se me perguntar fazendo o que, nada, olhando, juntando um papel, às vezes até limpando a mesa, não que alguém me pedisse isso não... Eu mal batia à máquina, não tinha noção rigorosamente de nada, tinha morado a vida inteira em Niterói, o Rio de Janeiro para mim era um exterior, não tinha noção, não tinha nenhum equipamento, que não a vontade de andar sozinho pra poder me credenciar ao emprego. Era uma época mais generosa. Eles foram me dando tarefas e eu fui me familiarizando com aquele cotidiano", contou ele ao Memória Globo.
O jornalista ganhou três vezes o Prêmio Esso, um dos principais do jornalismo brasileiro e trabalhou nos jornais "O Globo", "O Dia", "O Estado de São Paulo", "Jornal do Brasil". Na TV Globo, passou pelo "Jornal da Globo" e "Bom dia Brasil". Foi diretor de jornalismo da Band nos últimos anos, foi âncora da BandNews FM, no "Jornal da Band" e também era colunista da revista "Istoé".
Processos
Ricardo Boechat contou que coleciona inúmeros processos por conta de suas críticas a determinados comportamentos de servidores públicos, sindicatos, notas com denúncias de corrupção e pelo tom da crítica como comentarista.
"Me recuso a olhar para essa gente como tivesse olhando pros deuses do olimpo. Só falta agora que me coloque reverencialmente diante dessa lixarada que costuma predominar nas corporações do estado e dentro da política. O tom fica meio agressivo, eu reconheço, quero mais que se sintam incomodados mesmo. Não me importa que me ameacem, que me processem, acho que é do jogo", disse.
"O Boris Casoy uma vez me falou que se orgulhava de nunca ter sido processado. Estou num outro extremo, talvez seja da minha geração o jornalista que mais vezes seja processado. Não vejo isso como mérito e também como demérito. Dependendo de quem foram aos autores, a cada processo fico mais orgulhoso", comentou Boechat.
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