Topo

Primeira missão jornalística de Boechat foi acompanhar Pelé no aeroporto

Ricardo Boechat morre em queda de helicóptero

UOL Entretenimento

Marcela Ribeiro

Do UOL, no Rio

11/02/2019 15h35

Ricardo Boechat, que morreu aos 66 anos em acidente de helicóptero em São Paulo, tinha apenas 17 anos quando escreveu pela primeira vez para um jornal, o já extinto "Diário de Notícias".

"A primeira oportunidade que tive foi graças ao Pelé, que estava embarcando para o exterior, para receber uma homenagem qualquer, e, naquela tarde, haviam sequestrado um cônsul suíço. A cidade [o Rio] ficou um caos porque a polícia bloqueou tudo, quiseram fazer uma peneira fina em seis milhões de habitantes. Tinha que ir pro Galeão, aeroporto internacional, para pegar o embarque do Pelé, essa era minha missão", contou em entrevista ao site "Memória Globo" em 2000.

"O motorista foi de alguma maneira por contramão, canteiros, ruas secundárias. O fato é que nós chegamos ao aeroporto e só nós pegamos o embarque do Pelé. Fizemos uma foto legenda [jargão jornalístico para um texto muito curto acompanhado de registro fotográfico]. Acabou sendo meu primeiro texto pro jornal e graças ao motorista consegui fazer uma nota exclusiva. Então passei a fazer coisas para o 'Diário de Notícias'."

Em entrevista a um canal do YouTube, voltado para estudantes, em abril do ano passado, ele falou sobre as dificuldades da profissão, contou que é uma atividade que demanda muita dedicação, com rotatividade alta nas redações, mercado competitivo e explicou por que os profissionais muitas vezes abrem mão de feriados, fins de semanas e madrugadas.

"Morre-se de várias coisas no jornalismo, menos de tédio. Dependendo da escolha de vida que você faz, garantir que você não terá tédio, já é uma maravilha, pra mim é fundamental... É um ambiente estimulador, todo dia tem discussão boa. Você nunca vai sentar na mesa com amigos e não vai ter assunto", disse.

Boechat começou por acaso no jornalismo quando buscava o primeiro emprego, uma independência financeira e foi indicado pelo pai de uma amiga, que era diretor começar do jornal.

"Se me perguntar fazendo o que, nada, olhando, juntando um papel, às vezes até limpando a mesa, não que alguém me pedisse isso não... Eu mal batia à máquina, não tinha noção rigorosamente de nada, tinha morado a vida inteira em Niterói, o Rio de Janeiro para mim era um exterior, não tinha noção, não tinha nenhum equipamento, que não a vontade de andar sozinho pra poder me credenciar ao emprego. Era uma época mais generosa. Eles foram me dando tarefas e eu fui me familiarizando com aquele cotidiano", contou ele ao Memória Globo.

O jornalista ganhou três vezes o Prêmio Esso, um dos principais do jornalismo brasileiro e trabalhou nos jornais "O Globo", "O Dia", "O Estado de São Paulo", "Jornal do Brasil". Na TV Globo, passou pelo "Jornal da Globo" e  "Bom dia Brasil".  Foi diretor de jornalismo da Band  nos últimos anos, foi âncora da BandNews FM, no "Jornal da Band" e também era colunista da revista "Istoé".

Processos

Ricardo Boechat contou que coleciona inúmeros processos por conta de suas críticas a determinados comportamentos de servidores públicos, sindicatos, notas com denúncias de corrupção e pelo tom da crítica como comentarista.

"Me recuso a olhar para essa gente como tivesse olhando pros deuses do olimpo. Só falta agora que me coloque reverencialmente diante dessa lixarada que costuma predominar nas corporações do estado e dentro da política. O tom fica meio agressivo, eu reconheço, quero mais que se sintam incomodados mesmo. Não me importa que me ameacem, que me processem, acho que é do jogo", disse.

"O Boris Casoy uma vez me falou que se orgulhava de nunca ter sido processado. Estou num outro extremo, talvez seja da minha geração o jornalista que mais vezes seja processado. Não vejo isso como mérito e também como demérito. Dependendo de quem foram aos autores, a cada processo fico mais orgulhoso", comentou Boechat.