Árabe, dança, culinária: A preparação de Ana Cecília Costa para ser Missade
Quem assiste a "Órfãos da Terra" se encanta com a atuação de Ana Cecília Costa no papel da sofrida Missade, uma matriarca que precisa fugir da guerra na Síria e se refugia no Brasil. Sempre que entra em cena, a atriz esbanja emoção, o que tem rendido elogios da crítica e nas redes sociais.
Para compor sua personagem, Ana Cecília fez uma extensa preparação, que incluiu aulas de prosódia e árabe, de dança, e de culinária e gastronomia. Ela cita a ajuda de Karam Al Shekh, dono do restaurante Alshek em São Paulo, que, segundo ela, foi fundamental para sua composição.
Ana também teve conversas com o professor da USP (Universidade de São Paulo) Mamede Jarouche, responsável pela tradução do árabe para o português do clássico "Livro das Mil e Uma Noites".
"Tive um encontro com ele, não só relativas à guerra na Síria e todo o conflito, mas também da cultura árabe, literatura, música, poesia. Minha personagem é uma típica mulher árabe, tive que entender essa cultura", conta ela ao UOL.
Em momento algum eu julguei essa personagem com meus olhos ocidentais. Procurei dar o máximo de veracidade, fugindo da caricatura do que seria uma mulher árabe.
A experiência é, na visão de Ana, uma oportunidade de mostrar a realidade sofrida de muitas mulheres. "A história da Missade é a história de muitas mulheres árabes, sírias, que sucumbiram na guerra, e as que não sucumbiram e que ainda estão sofrendo com isso. É muito valioso receber o reconhecimento da comunidade árabe, síria, se sentindo bem representados através do personagem. Acho que estou sendo uma porta-voz".
Para a atriz, o sucesso da novela, que tem tido grande repercussão e bons índices de audiência - bateu recorde e marcou 28 pontos no Rio de Janeiro na última segunda, por exemplo - é um importante contraponto ao atual momento social.
"A gente está vivendo um momento tão sombrio, tão violento, as notícias muito pesadas. Quando você vê o sucesso de uma novela dessas, que está indo justamente na contracorrente, falando de compaixão, de amor ao próximo, de acolhimento... é um alento, porque mostra que as pessoas estão querendo isso", diz Ana. "As pessoas não viraram as costas para esse bloco bonito e amoroso que colocamos na rua. Fico muito feliz não só como artista, mas como cidadã do mundo".
Super-mães na ficção
Para Ana Cecília Costa, interpretar uma matriarca não é novidade. Além de Missade, a atriz deu vida a outra mãe superprotetora e pronta para tudo em nome de suas filhas: a bondosa dona Virtuosa de "Cordel Encantado".
"As duas personagens têm semelhanças porque são protetoras, maternais. Mas a Virtuosa é mais melodramática, mais doce, humilde e de temperamento mais simples. E a Missade é mais trágica, uma mulher estoica, que cai em pé. Estou dando essa altivez a ela. Eu não sou mãe na minha vida real, mas tenho feito muitos papéis de mães, e acho que o ator é isso: você explorar todas as facetas", ela diz.
"Cordel Encantado", que passou em 2011 e está sendo reprisada no Vale a Pena Ver de Novo, é de autoria de Thelma Guedes e Duca Rachid, a dupla que também assina "Órfãos da Terra". A parceria da atriz com as autoras já se repetiu outras duas vezes, em "Cama de Gato" (2009) e "Joia Rara" (2013).
"É uma honra ter essa parceria. Tenha uma admiração imensa pelas artistas e pelas mulheres que elas são", diz Ana. "Eu acho que elas são autoras de extremo talento, de muita coragem também, e que têm um diferencial, uma assinatura delas. O 'Cordel Encantado' é uma obra-prima, 'Joia Rara' é uma novela extremamente ousada. E 'Órfãos da Terra' é muito profunda, contundente".
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