Como Monalisa Perrone, ex-globais dizem que pagaram preço alto na madrugada
Não é só Monalisa Perrone que teve dificuldades de madrugar na televisão. Após pedir demissão da Globo nesta semana, a ex-apresentadora do Hora 1 --que entrava no ar às 4h-- acertou com a CNN Brasil e incluiu uma cláusula no novo contrato impedindo que ela trabalhe novamente de madrugada. A exemplo dela, jornalistas como Izabella Camargo, Carla Vilhena e Ana Paula Padrão, que coincidentemente deixaram a mesma emissora, afirmam ao UOL que nem sempre o sacrifício vale a pena.
Izabella Camargo trabalhava com Monalisa no mesmo telejornal, que vai ao ar de segunda a sexta, e passar madrugadas em claro teve grande impacto em sua saúde. Ela divulgou que sofreu Síndrome de Burnout, um distúrbio de caráter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso. A jornalista acabou demitida da Globo, tendo sido readmitida recentemente por conta de uma decisão da Justiça.
Ela diz que trabalhar naquele horário e ainda se dividir em três jornais influenciou no desenvolvimento da doença."Tem gente que é mais diurno, produz melhor acordando cedo. Tem gente que produz melhor trabalhando mais tarde. Entretanto, todos os médicos que já entrevistei são categóricos: independentemente do perfil do trabalhador, inverter o ciclo circadiano [o ritmo do corpo humano que regula a produção de hormônios] é extremamente prejudicial", relata.
Fazer um projeto, se dedicar a algo por um curto período, que seja necessário dormir menos ou inverter o ciclo, traz consequências. Fazer isso por anos gera prejuízos que podem ser fatais.
Ana Paula Padrão: "Sou produtiva de dia"
Izabella Camargo não é a única que expõe publicamente as consequências prejudiciais que o trabalho na madrugada trouxeram para a sua vida. Ana Paula Padrão, que se define como uma pessoa solar, diz que os cinco anos em que ancorou o Jornal da Globo não lhe fizeram bem. À época, a apresentadora do MasterChef Brasil estava casada e conta que mal conseguia ver o marido.
Sou muito guiada pela luz e realmente começo a sentir sono quando fica escuro. Não vivo bem se não trabalho de dia. Nunca gostei de trabalhar à noite, mas acho que cada pessoa tem o seu jeito. Conheço um monte de gente que trabalha muito melhor de madrugada, que tem mais energia de noite. O importante é se respeitar
Em busca de uma melhor qualidade de vida, Ana Paula pediu demissão da Globo e foi para o SBT antes de fazer a migração do jornalismo para o entretenimento.
"Eu e meu marido, na época, tínhamos que marcar almoço às vezes, porque senão a gente não se via. Eu estava guiando a minha vida para ter equilíbrio entre o pessoal e o profissional. Eu queria a vida que todo o mundo mais ou menos tinha, com fins de semana e noites em casa", desabafou ela em uma entrevista no ano passado ao UOL.
Carla Vilhena chegou a dormir na garagem da Globo
Carla Vilhena vivenciou dois extremos em sua trajetória profissional. No Jornal da Noite, na Band, ela entrava na madrugada. E, quando comandou o Bom Dia São Paulo, na Globo, recorda-se que ia dormir após o Jornal Nacional para conseguir levantar cedo.
Mãe de três filhos, a jornalista destaca um momento que a marcou na difícil rotina de acordar cedo para trabalhar: "Meus filhos não percebiam que eu saía de casa. Teve uma noite que o meu pequeno me viu, e foi um drama. Ele ia para a porta e chorava agarrado em mim. Foi realmente difícil".
Ela relata que tinha muito medo de perder a hora e que, por isso, chegou até a dormir no estacionamento da Globo:
Ficava insegura se conseguiria acordar bem e, algumas vezes, fui [à noite] para a garagem. Tinha um travesseiro dentro do carro, eu colocava tampão no ouvido e avisava o segurança que eu estava lá dentro do carro para ele não se assustar. Era o medo que eu tinha de perder a hora. Sempre fico orgulhosa porque, em três anos, eu nunca perdi a hora.
Se voltaria a trabalhar de madrugada? Carla Vilhena considera que dependendo da proposta aceitaria, mas teria que ser por um bom motivo profissional.
"Acho difícil. Mas a gente nunca diz dessa água não beberei. Teria que ser algo muito desafiador e uma forma de me realizar profissionalmente", diz.
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