Debora Bloch diz que série a fez perceber "guerra que a gente não vê"
Prestes a começar a gravar a segunda temporada da série Segunda Chamada, da Globo, Debora Bloch disse que o atual papel a fez abrir os olhos para a situação social do país e do Rio. Para a atriz, a "cidade morreu" e a sociedade "normalizou a violência".
"Há uma guerra do nosso lado e a gente não vê. Esse é o retrato da Zona Sul hoje. Vivemos encastelados como Marias Antonietas, como se não fosse com a gente", disse ela em entrevista ao jornal O Globo.
A série retrata o dia a dia de professores e alunos adultos do ensino noturno. Cinco professores tentam manter os alunos interessados na escola em meio a dificuldades pessoais e a má infraestrutura do ensino público. Bloch intepreta a professora Lúcia.
"Quem frequenta essas escolas é a população menos favorecida. Gravamos numa ocupação onde se vive em condições sub-humanas, barracos feitos de papelão e lata, esgoto a céu aberto, onde crianças brincam. A gente não olha para essas pessoas. Nós vivemos numa bolha...", comenta a atriz, que declara ainda que vê o Rio de Janeiro "triste". "A cidade morreu".
Para ela, parte do problema é que a sociedade normalizou a desigualdade e a violência. "A população pobre e preta, os índios e os ativistas sendo assassinados, helicóptero atirando em escolas nas favelas. Não é matando pobre que vamos acabar com a pobreza. Parte da população está cega. (...) As pessoas não se dão conta de que um dia chega na sua casa, o spray de pimenta vem no seu olho".
Ao comentar a situação da cultura no Brasil, setor que vem sofrendo mudanças e cortes de verbas por parte do governo federal, ela vê com receio, mas diz acreditar na resistência.
"[A cultura] Está sendo minada através do corte de recursos, que é uma forma de censura. Roberto Alvim (secretário Especial da Cultura) esbraveja contra artistas quando deveria representá-los em toda a sua diversidade. Há uma tentativa de acabar com o sonho e a transcendência. Mas a arte sempre resistiu e resistirá", declarou Bloch.
Mais papeis para mulheres
Na entrevista, a atriz ainda comentou sobre os papeis para mulheres e disse se achar melhor atriz hoje "do que aos 20, 30 anos". "Sou mais tranquila, feliz e menos ansiosa. Agora, depende de uma vida interior..."
Ela vê o fato de mais autoras estarem assumindo a escrita e direção de tramas na televisão como fundamental para o surgimentos de papeis mais fortes para mulheres, explorando diferentes idades e contextos.
"Protagonizei a novela de Licia Manzo ("Sete vidas") com 52 anos. Regina Casé, com 60 e poucos, é protagonista da Manuela Dias (autora de "Amor de mãe"). A juventude é linda e a câmera a ama, mas a gente tem que sair só da estética. Não que eu não esteja nem aí. Coisa mala é ter que botar óculos. Mas quando vemos Sonia Braga e Fernanda Montenegro, com suas rugas e histórias na tela, é de uma força!", disse a atriz.
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