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Petrix no BBB: quem sofreu abuso pode repetir agressão? Psicólogos explicam

Petrix vem causando polêmica no BBB - Reprodução/TV Globo
Petrix vem causando polêmica no BBB Imagem: Reprodução/TV Globo

Guilherme Machado

Do UOL, em São Paulo

31/01/2020 04h00

Foram precisos apenas três dias de confinamento no BBB 20 para que Petrix causasse o primeiro mal-estar. Ele foi acusado de assédio por ter tocado os seios de Bianca Andrade e, depois, ainda fez uma série de comentários machistas dentro da casa. O brother também causou revolta ao encostar suas partes íntimas em Flayslane.

Nas redes sociais, o público questiona como o participante do reality, que ficou conhecido por denunciar casos de abuso sexual no meio da ginástica, repete comportamentos abusivos.

Para o psicólogo e doutor em neurociência do comportamento e diretor do CASME (Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio), Yuri Busin, a análise não é tão simples.

"Em relação à psiquê humana, realmente, existe uma possibilidade maior de pessoas que sofreram traumas terem um pouco mais de empatia com pessoas que passam pelo mesmo, porque elas já sofreram aquela dor. Mas isso não é necessariamente uma regra."

Petrix e Bianca durante festa - Reprodução/Globoplay - Reprodução/Globoplay
Petrix coloca as mãos nos seios de Bianca Andrade
Imagem: Reprodução/Globoplay
Para o médico, seria necessário entender como a situação afetou Petrix. "A gente nem sabe como ele lidou com aquele trauma. A gente nem sabe se de fato foi um trauma para ele ou não, se ele superou ou não, se ele sofre, se ignora. A gente imagina que dói, mas a gente não sabe se realmente dói, ou se aquela pessoa encarou aquilo de forma fria."

Wimer Bottura, psicoterapeuta e psiquiatra, presidente da ABMP (Associação Brasileira de Medicina Psicossomática) e membro do grupo da cadeira de Psicologia Médica da Faculdade de Medicina da USP, explica que pessoas agredidas podem ter tendência a cometer agressões.

"Infelizmente o trauma não gera, obrigatoriamente, uma proteção contra a repetição de um fenômeno. Pelo contrário, a neurociência mostra que o ser humano tende a repetir padrões", enfatiza Bottura.

"A pessoa que foi humilhada, sofreu abuso, tende a repetir esse padrão nas suas relações. Mas tendência não significa determinação, tendência indica uma maior possibilidade", explica o médico. "Assim como na síndrome de Estocolmo, em que a pessoa sequestrada se apaixona pelo sequestrador, essa tendência de o agredido se tornar agressor também contraria a expectativa das pessoas. Quem não está envolvido no processo entende que agiria de forma diferente", complementa o psiquiatra.

O psicanalista, mestre e doutor em psicologia pela USP e professor na universidade Christian Dunker, também argumenta que é possível que uma pessoa que sofreu abusos pode se tornar um abusador.

Quatro momentos em que Petrix foi acusado de assédio no BBB20

"Quem foi abusado pode se tornar abusador. É uma coisa tão enigmática, que levanta muitas perguntas: 'por que aconteceu? Eu fui o culpado? O que o abusador estava pensando?'. É uma situação tão ruim que a pessoa repete, como se para investigar as razões daquilo, como que para descobrir como funciona a gênese daquele processo", afirma o professor.

Busin explica que vítimas de agressões podem externalizar a raiva como uma espécie de mecanismo de defesa.

"Depende de pessoa para pessoa, mas isso realmente pode acontecer, não só como forma de defesa, mas como forma de colocar a raiva para fora, principalmente com relação ao bullying. Em vez de ser agredida, a pessoa prefere ser o agressor. É uma forma compensatória", esclarece, reforçando que mais uma vez a individualidade é chave para entender essas questões mais a fundo.

"São variáveis muito grandes, depende muito da personalidade do indivíduo, da criação dele, de como ele lida ou não com os problemas", diz Busin.

Christian Dunker também ressalta que é difícil categorizar como um abuso pode afetar cada pessoa: "Os efeitos de um trauma são imprevisíveis. Eles podem ir desde a repetição até o absoluto isolamento da situação ou o esquecimento de que aquilo aconteceu".

Dunker também destaca que o BBB é uma experiência atípica, em que pessoas são colocadas em situações extremas que as levam, muitas vezes, a exagerar na forma como agem.

Todos os entrevistados, no entanto, são enfáticos ao dizer que, para fazer uma análise mais aprofundada do comportamento de Petrix, é preciso entender o contexto completo de sua formação. E que esse retrato não pode ser feito a partir de uma tela de televisão.