Bial sobre série de João de Deus que estreia hoje: 'Histórias nauseantes'
Condenado a mais de 60 anos de prisão por abuso sexual, o médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, é tema central da série "Em Nome de Deus", que estreia hoje. O primeiro capítulo será exibido pela Globo após "Aruanas". Na sequência, a série será liberada na íntegra no Globoplay. No Canal Brasil, vai ser exibida a partir de amanhã, sempre às 20h50.
São seis episódios criados a partir de 18 meses de trabalho, que mostram os bastidores da investigação que culminou na primeira denúncia pública contra João de Deus, no programa "Conversa com Bial", em dezembro de 2018. E também revelam a trajetória do médium, homem temido e poderoso —amigo de políticos e celebridades.
"Como transmitir essa investigação?", questiona-se o jornalista Pedro Bial.
A postura-chave para conseguirmos transmitir o que era necessário foi delicadeza. Como as histórias são quase nauseantes de tão horripilantes, não podíamos pesar a mão. Tudo ali já era muito pesado. Precisamos de muito cuidado, tudo poderia transbordar. Nesse sentido, conseguimos narrar coisas terríveis sem dramatizar o já trágico.
João de Deus foi preso poucos dias após a exibição do programa, que gerou uma escalada de acusações contra ele. Mais de 300 mulheres, muitas sofrendo em silêncio há anos, criaram coragem para revelar suas histórias de abuso e denunciá-lo.
O médium atuava desde 1976 em Abadiânia (GO), na Casa Dom Inácio de Loyola, espécie de hospital espiritual que recebia diariamente milhares de pessoas —de todas as partes do Brasil e do mundo. Atualmente, ele cumpre prisão domiciliar.
"Acho muito improvável que essa história acontecesse em outro país que não fosse o Brasil. Entra aí a nossa vocação histórica de buscar um salvador da pátria, seja na hora de eleger, seja na hora do desespero. Uma coisa é certa de encontrar nesses centros de auxílio espiritual: desespero. É o que leva as pessoas a buscarem um santo milagreiro —e isso acrescenta mais uma camada de horror a tantos horrores acumulados nessa história: se aproveitar dessas pessoas em seu momento mais vulnerável", afirma Bial.
O jornalista conta que estava havia meses negociando uma entrevista com João de Deus quando ele finalmente aceitou falar, com a condição de que Bial fosse a Abadiânia conhecer a Casa Dom Inácio. Na véspera da viagem, o jornalista desistiu.
A redatora Camila Appel, do "Conversa com Bial", decidiu então ir mais a fundo na pesquisa sobre o médium. E começou a descobrir os primeiros indícios de casos de abuso sexual. Mas precisava de alguém que topasse aparecer diante das câmeras, contando o que havia passado.
Elas tinham medo de violência, das famílias delas, de retaliação espiritual. De que se falassem comigo, algo de ruim poderia acontecer a elas.
Quem finalmente decidiu ir a público foi a holandesa Zahira Mous, que tinha procurado João de Deus para tentar se curar de um trauma sexual e acabou se tornando uma de suas vítimas.
"A Zahira, no começo, também não queria mostrar o rosto. A gente ficou conversando sobre como era importante essa quebra do silêncio. Existem consequências positivas. E existem outras muito negativas. No Brasil, há uma cultura de descredibilizar as vítimas. Além disso, aqui a gente tem uma impunidade gigantesca e comprovada. Nosso papel é acolher essas histórias e revelá-las."
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