Ativista vê Dani Calabresa como 'heroína' em denúncia contra Marcius Melhem
A repercussão da reportagem da revista "Piauí", que esmiúça o comportamento e as denúncias de mulheres contra o ex-diretor da Globo Marcius Melhem, dominou as redes sociais ontem. Em entrevista ao UOL, a advogada das vítimas, Mayra Cotta, e a cientista política e ativista feminista Manoela Miklos exaltaram a coragem de Dani Calabresa, que expôs o assédio que sofreu do antigo colega.
A reportagem relata uma das investidas de Melhem contra Dani Calabresa, durante uma confraternização da equipe do humor da Globo.
A comemoração continuava animada quando Calabresa resolveu ir ao banheiro, cuja porta dá para um lavabo com espelho e não fica à vista de quem está no salão. Ao sair, a atriz deu de cara com Melhem, que estava à sua espera e tentou agarrá-la. Ela reagiu, bateu com a parte traseira da própria cabeça na parede e pediu que Melhem a deixasse passar. Em vão. Com uma das mãos, ele imobilizou os braços da atriz. Com a outra, puxou a cabeça dela para forçar um beijo. Assustada, Calabresa cerrou os lábios e virou o pescoço, mas Melhem conseguiu lamber o rosto dela. Em seguida, tirou o pênis para fora da calça. Enquanto a atriz tentava soltar os braços e escapar da situação, acabou encostando mão e quadris no pênis de Melhem. Ao reencontrar os colegas no salão, Calabresa teve uma crise de choro.
"Dani Calabresa é uma heroína. Ouvimos muitas histórias parecidas com a dela. Infelizmente, ela não é a única", pontua Manoela Miklos. "Queria deixar toda minha admiração a Dani e a todas as vítimas que a gente ouviu e as que a gente não ouviu. Que elas se sintam acolhidas. A primeira coisa que as mulheres pensaram quando souberam que ia ter uma investigação foi alívio", completa Mayra Cotta.
Privacidade
A advogada e a cientista política reforçaram que é importante preservar a privacidade das vítimas e que elas só decidam se expor quando se sentirem preparadas.
"Você só consegue fazer isso quando você se sente minimamente segura, acolhida e amparada. O final feliz dessa história são mulheres recuperando esses vínculos, se sentindo amparadas. Todas as vítimas estão descobrindo umas às outras, isso é o mais inspirador", conta Manoela.
"O processo de falar publicamente sobre isso não só expõe o assediador, mas também cria uma rede de apoio. Desde o início, a gente quer manter a privacidade das vítimas, não expor, dar o tempo que elas precisam", diz a advogada.
"As empresas e organizações precisam ser mais proativas. O assédio não acontece porque um homem acorda e decide assediar alguém. É incentivado pelo ambiente de trabalho. Esse caráter estrutural precisa ser endereçado. Precisamos entender as microagressões que podem se desenvolver em assédio", finaliza Mayra.
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