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Ex de assistente do Ratinho, policial é indiciado por violência doméstica

Rhenata e o ex-namorado, o policial Erik Becker; ele foi preso sob suspeita de violência doméstica - Reprodução/Instagram
Rhenata e o ex-namorado, o policial Erik Becker; ele foi preso sob suspeita de violência doméstica Imagem: Reprodução/Instagram

Felipe Pinheiro

Do UOL, em São Paulo*

17/09/2021 10h29Atualizada em 17/09/2021 15h27

O policial civil Erik Becker foi preso ontem, em São Paulo, sob suspeita de praticar violência doméstica contra Rhenata Schimidt, sua ex-namorada que trabalha no "Programa do Ratinho", do SBT. O investigador está no Presídio da Polícia Civil, no Carandiru, e foi indiciado pela Lei Maria da Penha.

"A autoridade policial concluiu o inquérito com o pedido de prisão preventiva do policial citado e encaminhou para apreciação do Ministério Público, que se manifestou favoravelmente, e do Poder Judiciário, que deferiu na quarta-feira (15) o pedido", informou a Secretaria de Segurança Pública (SSP) ao UOL.

Becker responde, ainda, a um processo administrativo, que pode resultar em sua demissão. À reportagem, a advogada de Rhenata, Elizangela Campos Bruner, disse não acreditar que Becker seja solto para responder em liberdade. Ele responde aos crimes de tentativa de estelionato, furto qualificado mediante abuso de confiança, ameaça e descumprimento de medida protetiva. Se condenado, pode ficar preso pelo período de dois a nove anos.

"Não há previsão de que ele seja libertado, porque é reincidente nesse tipo de crime, de violência doméstica, além de oferecer risco para a vítima, porque continua fazendo ameaças. Com base nisso, a legislação não permite que ele seja solto nem por habeas corpus", afirmou a advogada.

A reportagem do UOL apurou que a assistente do "Programa do Ratinho", do SBT, se sente aliviada com a prisão do ex-namorado, embora esteja apreensiva caso ele seja solto. Orientada pelo diretor do programa, ela resolveu que não dará mais entrevistas à imprensa sobre o caso. Em vídeo publicado nas redes sociais, Rhenata disse que sentiu "medo e vergonha". A assistente incentivou as mulheres a denunciarem situações como a que ela alega ter vivido.

Outro lado

Até o momento, o policial Erik Becker não tem defesa constituída e, portanto, um representante legal não foi localizado pela reportagem para comentar o caso. Entretanto, em sua página do YouTube, Becker deixou uma mensagem antes de ser preso:

Tenho provas comigo. A verdade vai aparecer, tenho certeza, e estou completamente à disposição da Justiça para que tudo se resolva. Obrigado a todos pelo carinho e pelas mensagens de apoio.

Momentos de terror no apartamento

A reportagem do UOL teve acesso ao boletim de ocorrência registrado por Rhenata em 31 de agosto. No depoimento, a assistente de palco afirmou que viveu momentos de tensão após voltar de uma viagem, , três dias antes de ir à delegacia. Alega que o ex-namorado Erik Becker estava alterado e a acusou de traição. Com comportamento violento, ele ainda teria agredido Rhenata verbalmente e fisicamente.

Erik passou a ofendê-la com impropérios de 'vagabunda' e, em seguida, arremessou um dos celulares da declarante contra a parede, o quebrando. (...) Esclarece que a Polícia Militar foi acionada por moradores do prédio, que escutaram o entrevero entre o casal e a declarante gritando por 'socorro' no momento em que ela saiu do apartamento.

Segundo o relato de Rhenata, Becker a puxou pelos cabelos e a levou de volta ao apartamento. Ela alegou que sentiu dores por dois dias após a agressão. À polícia, disse que o ex trancou a porta e escondeu as chaves. Naquele momento, então, ela teria sido ameaçada:

A declarante estava com bastante medo de Erik e gritava por socorro, momento este que ele pegou uma ave de estimação da declarante e ameaçou tirar a vida do animal caso ela insistisse em continuar gritando por ajuda.

No registro da ocorrência, ela ainda relata que o policial começou a chorar e mostrou um vídeo íntimo, durante uma relação sexual, com outra ex-namorada enquanto dizia que ela o havia prejudicado. O policial ainda, segundo Rhenata, ameaçou tirar a própria vida, trancou-se no banheiro e ingeriu um medicamento, supostamente para depressão.

A Polícia Militar chegou à residência e Rhenata afirma que relatou tudo o que havia ocorrido. A assistente disse às autoridades que o ex era policial civil e que por isso estava armado. "Erik se aproximou da declarante e tentou diálogo, mas a declarante se negou a conversar e disse para ele retirar os seus pertences do apartamento".

Ela ainda diz que, após o ex deixar o apartamento, notou que itens pessoais dela haviam sido levados, como todos os documentos — incluindo passaporte —, dois aparelhos celulares, fone de ouvido no valor de R$ 1.500, casacos e botas de luxo, filmadora GoPro, máquina de cartão de crédito e bonés avaliados em R$ 8 mil.

Depois deste episódio, a assistente solicitou medidas protetivas e não retornou mais ao apartamento.

Entenda o caso

Rhenata acusa o ex, com quem se relacionou por três meses, de lesão corporal, ameaças e perseguição, tentativa de estelionato e furto qualificado mediante abuso de confiança. Os dois se conheceram em um clube de tiro e namoraram durante três meses.

A mulher diz que tentou terminar o relacionamento logo no primeiro mês, mas que começou a ser agredida desde a primeira tentativa. De acordo com Rhenata, as agressões eram constantes e incluíam chutes, empurrões, enforcamento, puxões de cabelo, socos no nariz e em outras partes do corpo.

O policial também teria apontado a arma para a ex-namorada mais de uma vez. Ela afirma que foram cinco episódios graves de agressão, mas apenas o último foi registrado em uma delegacia.

Como denunciar violência

Caso a vítima tenha sofrido violência sem ferimentos graves ela pode recorrer imediatamente a Delegacia da Mulher, se existir essa unidade em seu município, ou a delegacia de Polícia Civil, para registrar o boletim de ocorrência.

Quando houver ferimentos graves, com necessidade de pronto atendimento, a unidade de saúde ou hospital deverá fazer o encaminhamento ou orientar a paciente para que procure a delegacia de polícia. Na maioria dos casos com internamento, o próprio hospital confirma a violência e avisa a Polícia Civil.

Disque 190

Deve ser acionado em caso de flagrante ou em que a situação de violência esteja ocorrendo naquele momento.

Disque 181

Pode ser usado para denunciar anonimamente a violência. As informações serão conferidas pela polícia.

Disque 180

A Central de Atendimento à Mulher funciona 24 horas. A ligação é gratuita, anônima e disponível em todo o país.

Ministério Público

Acesse o site do Ministério Público do seu estado e saiba qual a melhor forma de fazer a denúncia. Alguns estados possuem, inclusive, núcleos de gênero especializados em atender mulheres vítimas de violência.

*Colaborou Anahi Martinho, em São Paulo