Cleo: "Tive relações tóxicas, com manipulação e sexismo"
Não existe tabu para Cleo. Sempre na mídia, a atriz e cantora não tem medo de se expor. Usa a mesma naturalidade com que fala sobre trabalho para discorrer sobre amor, sexualidade, compulsão alimentar e padrões de beleza.
Nesta conversa aberta com a Coluna do Leo Dias, Cleo fala de como os homens se apaixonam por uma idealização do que ela é, diz que sempre sonhou em se casar e que seus relacionamentos passados foram tóxicos. "Tóxico é quando tem chantagem emocional, muita manipulação, tem muito sexismo, muita hipocrisia. Às vezes, você mesma se torna tóxica numa situação emocional sufocante. Meu grande amor ainda não chegou."
Ela comenta ainda sobre as mudanças físicas provocadas pela compulsão alimentar e diz que hoje não tem mais receio de pedir ajuda. "Descobri que tinha muitos gatilhos e que eu acabava indo para um lugar de descontrole total, em forma de autopunição. Não é saudável. Dava prazer, mas não era saudável."
Leia, abaixo, trechos da entrevista.
LEO DIAS - Quando começou a mudar seu corpo? Em que momento percebeu que isso era uma compulsão e que estava trazendo consequências ruins?
Eu entendo há muito tempo o que é a compulsão e via que eu estava ali perto. Me identificava com aquilo. Mas nunca fui a fundo nisso e acho que neste ano eu realmente vi que tinha essa questão: compulsão com a comida. Você está feliz e quer comemorar. Tristeza, alegria, ansiedade, depressão. Não é que é uma desculpa, mas é para onde meu organismo vai. Descobri que tinha muitos gatilhos e que eu acabava indo para um lugar de descontrole total, em forma de autopunição. Não é saudável. Dava prazer, mas não era saudável. Amo comer, mas, quando você perde o controle e aquilo vira um foco, fica doentio e problemático.
Existe algum exemplo? Alguma coisa que você comeu muitas vezes e exagerou? Eu não imagino você comendo muito.
Só você perguntar para qualquer pessoa que trabalha comigo. Eu como de tudo, tudo mesmo. Não é comida. É lanche. Tive uma fase em que eu estava completamente obcecada por açaí com farinha láctea. E aí eram três de 500 ml por dia, pelo menos. Só que isso por muito tempo. E demorou para eu perceber que era uma obsessão, porque acontece isso desde que me entendo por gente.
Mas se você tem isso desde que se entende por gente como foi que chegou àquele corpo de quando posou nua?
Eu fazia muita dieta maluca e tomava remédio. Tirava compulsão da comida e, às vezes, conseguia colocá-la em exercício e em querer ficar magra. A compulsão para comida foi para esses outros lugares, mas eles não duram. E é tudo doentio. Você pode estar magra, mas a sua cabeça é doente ainda. Não quero que seja uma coisa pesada, mas é uma questão séria.
Em que momento você começou a fazer terapia? Você já faz terapia para compulsão?
Não fiz terapia para a compulsão. Tenho vontade de fazer hipnose. Mas eu tenho melhorado muito. Hoje em dia não tenho vergonha de pedir ajuda. Eu era muito autoafirmativa e me defendia, mas tudo bem, fazia parte. Como mulher, às vezes, você tem que fazer isso para se impor. Mas chegou um momento da minha vida em que eu tive mesmo que pedir ajuda. E eu tenho ajuda. Tenho uma equipe incrível em casa e no trabalho.
Você vê beleza na gordura?
Não existe só um tipo de beleza. Vejo beleza na gordura. A pessoa para mim pode ser bonita, magra ou gorda. Ou feia magra e feia gorda. A beleza nem sempre está ligada ao corpo.
Você ainda se considera um símbolo sexual?
Eu nunca me considerei um símbolo sexual. Nunca me achei, mas entendo e sou grata por estar nesse lugar pela visão das pessoas. Mas eu não me coloquei nesse lugar. Eu gosto de nu, de coisas sexies, de ter liberdade com meu corpo. Eu gosto de dinheiro. Tudo isso para mim é o momento da Playboy.
Uma vez você fez um programa de rádio comigo, e eu fiquei reparando em você. Você seduz até um poste que está parado. É um jogo seu.
Por um lado é muito bom ouvir isso, porque eu faço sem perceber. Mas, por outro lado, é chato, porque as pessoas acham que sedução não tem relação com ser levada a sério. Às vezes, só estou séria na discussão, prestando atenção, profundamente inserida naquilo, e as pessoas estão de fora pensando que quero seduzir alguém. Ou seja: 'é uma faca de dois legumes'.
A sua Playboy vendeu 40% a mais do que a história da revista. Vamos pegar a Cleo de hoje e jogar naquele momento. Você faria de novo a revista com esse corpo?
A minha questão não é o corpo e, sim, o momento. Eu faria com este corpo. Eu não sou muito bem relacionada com meu corpo, tem dias em que odeio meu corpo. Mas sexualmente sou muito bem relacionada, sim. Me conheço muito bem e sei o que me dá prazer.
O sexo na sua vida mudou? Continua com a mesma intensidade?
Sou sexual, acho que todos somos. Mas, para mim, sexual não é dar para todo o mundo. Ser sexual é você saber da sua energia. A sua energia de vida é a sua energia sexual. A questão não é se eu tive muitos parceiros. Ser sexual é ter noção do poder da sua energia e usá-la. Isso não quer dizer que você transe muito ou pouco. Eu gosto dessa energia sexual.
Você sempre falou disso. Sempre gostou de filme pornô. Hoje em dia você vê pornô?
Não muito. O último pornô que eu vi foi há umas duas semanas. Quando eu gostava, era algo mais assíduo. Eu gosto de pornô com história. Isso me excita.
Como está a sua vida sexual hoje?
Acho que como sempre esteve. Sempre tive fases de muito, fases de pouco, fases de uma pessoa só, fases de várias pessoas. Estou no mesmo lugar. O que tem mudado para mim é o amadurecimento. A questão virou muito mais a troca específica com alguém e não o tesão em si. E a troca vai além do sexo. O sexo de que eu mais gosto e que procuro é quando vira consequência de uma troca com alguém. Não só do meu tesão.
Se a pessoa não apresentar algo mais, você não vai para a cama com ela, é isso?
É, mas esse algo mais é a troca, a química.
Quem foi a última pessoa com quem você transou?
Eu não vou falar quem é. Mas faz um mês, mais ou menos. Foi numa viagem. Eu cheguei nele, estava num jogo. Estava com umas amigas e achei ele muito gato. Não era no Brasil. Pensei: 'Ele é o cara mais gato do lugar'.
Você está namorando? Namorou alguém recentemente?
Não.
Quem foi o grande amor da sua vida?
Acho que ainda não tive. Tive longos relacionamentos, mas foram tóxicos. Amei muitas pessoas. Mas tive relacionamentos tóxicos. Tóxico é quando tem chantagem emocional, muita manipulação, tem muito sexismo, muita hipocrisia. Às vezes, você mesma se torna tóxica numa situação emocional sufocante. Meu grande amor ainda não chegou.
Você se satisfaz sozinha?
Sexualmente, sim. Na vida, não. Sex shop está aí para isso. Mas na vida eu preciso dos meus amigos. Preciso de pessoas.
O cara que te leva para a cama, leva a Cleo jurídica ou a física?
Primeiro que ninguém me leva para a cama, a gente vai junto [risos]. Ultimamente, os caras que têm se apaixonado por mim se apaixonam por um ideal e não por mim. Eu me decepciono muito quando percebo isso.
Você conseguiria morrer sem ter um casamento feliz?
Não sei, porque eu já nasci querendo me casar. Sonhava com isso. Não véu e grinalda, mas casar. Sempre acreditei numa coisa 'juntos vamos dominar o mundo'. Ter um parceiro de vida. E quando chega no quesito de atração física, eu sou muito hétero nesse sentido e aí é difícil, porque a maior parte dos homens héteros é péssima.
Então você nunca transou com mulher?
Não, nunca.
Mas você não busca então algo perfeito demais?
Perfeito não, mas o mínimo é me respeitar como ser humano e não como uma extensão do seu ego, concorda?
Você é uma pessoa fácil de lidar, Cleo?
Não, mas eu sou maravilhosa [risos]. Tenho qualidades incríveis.
Vamos falar sobre o mercado publicitário. Essa nova Cleo foi bem recebida?
Eu não estava temerosa por perder parceiros por não estar dentro dos padrões. Mesmo com 20 quilos a mais eu ainda estou dentro dos padrões. As pessoas acham que as mulheres famosas têm um outro padrão, mais magro ainda. Sempre fico assustada, porque acho que as pessoas às vezes têm tanta disponibilidade a ter um discurso de ódio, estão sempre dispostas a te dar uma 'tostada'. E, quando essa 'opinião' fica muito ampla, me dá um receio de pensar nas pessoas com quem estou trabalhando. Penso: será que elas vão achar que é culpa minha? É questão de responsabilidade. Mas eu só tenho tido ótimas surpresas.
Ainda sobre o seu corpo. Você fez plástica só no nariz?
Fiz nariz e preenchimento de olheira. E botox. Mas de preenchimento foi só isso. Nunca fiz boca. O meu rosto mudou mesmo com a vida, não foi sempre igual. Fora isso, eu tive a fase em que coloquei aparelho. Tinha bruxismo, tenho ainda. Então, o aparelho mudou muito a estrutura do meu rosto. E, se eu tivesse feito a boca, não teria problema nenhum em falar.
Ouvi seu trabalho musical e gostei muito. Achei moderno e urbano. Mas senti dificuldade em definir o que você canta.
Eu canto música. Também tenho dificuldade em me definir. Não tenho um estilo musical. Aquilo eu defini como 'heavy pop'. Tem uma coisa meio sombria, dark, com uma coisa de rock. Não acho que seja também um trabalho tão comercial. Para mim o que importava naquele momento era experimentar. Foi a minha coisa mais autoral. Agora, quero me desafiar, compor, cantar melhor, quero fazer músicas que atinjam mais pessoas.
Está ganhando dinheiro com a sua música?
Não estou ganhando dinheiro, mas também não tenho prejuízo. É um mega investimento. Estou amando.
Quais são seus sonhos na vida?
Acho que tenho muito sonho de Miss Brasil, tipo a 'paz mundial'. Mas eu gostaria de viver numa sociedade mais justa. Isso me aflige muito.
Vemos muitos artistas politizados e muitos acabaram se queimando publicamente, porque o Brasil ficou dividido. Você tem posição política? Quer expor sua opinião sobre o atual governo?
Não tem como não ter uma posição política. Não é sobre política, é sobre humanidade. Você não pode estar ao lado de um governo que é contra a liberdade das mulheres, que é contra direitos iguais. Mas nunca sofri consequência por expor minha opinião sobre isso. Posso ter sofrido e não sei. Perdi job? Se foi não fez a menor falta.
Recentemente você lançou o Cleo On Demand. O que é?
Tenho uma equipe incrível e estou sempre buscando usar o que já conquistei para multiplicar. Não só ganhar dinheiro e posar de bonita, mas também [criar] algo de que eu tenha orgulho. E o On Demand é uma plataforma no meu IGTV usada para conteúdo audiovisual de que eu gosto e que acho importante. Tem curtas com a Vera Holtz e Jesuita Barbosa. Tem peça com a Tais Araújo. Tem vários conteúdos bacanas.
Veja a entrevista completa abaixo e ouça a íntegra da conversa no podcast UOL Entrevista.
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