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Mauricio Stycer

Apagar o passado? Combate ao racismo afeta reprises na TV

O sexteto de "Friends", série exibida originalmente entre 1994 e 2004 - Reprodução / Internet
O sexteto de "Friends", série exibida originalmente entre 1994 e 2004 Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

14/06/2020 05h01

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A morte do ex-segurança George Floyd, assassinado por asfixia por um policial branco na cidade de Minneapolis, provocou comoção mundial. Protestos contra o racismo e a violência policial se espalharam pelos Estados Unidos e por diversas cidades de muitos outros países.

Em Bristol, na Inglaterra, manifestantes derrubaram a estátua de Edward Colston, um comerciante local que fez fortuna com o tráfico de africanos para realizar trabalho escravo nas Américas. A estátua foi erguida em 1895. Por temer que algo parecido possa ocorrer em São Paulo, a estátua de Borba Gato ganhou proteção policial.

Na esteira deste e de outros muitos protestos, voltou à tona um debate muito importante: o que fazer com criações antigas (filmes, séries, obras de arte, homenagens) que apresentam conteúdo racista ou reiteram preconceitos?

Nesta semana, a HBO retirou temporariamente do catálogo do seu serviço de streaming o filme "...E o Vento Levou". O longa-metragem de 1939 sobre a Guerra Civil americana, ganhador de oito estatuetas do Oscar e uma das maiores bilheterias de todos os tempos, é muito criticado por sua representação de escravos conformados e proprietários de escravos heroicos.

Já Marta Kauffman, uma das criadoras de "Friends", exibida entre 1994 e 2004, reconheceu esta semana a ausência de diversidade na série. Ela disse que teria feito escolhas diferentes no passado se tivesse o conhecimento que tem hoje sobre o assunto. Há pouco tempo, Lisa Kudrow, a Phoebe da série, fez observação semelhante, dizendo que hoje seria impossível uma série assim, com um elenco exclusivamente branco.

Como lidar com estes problemas?

No caso da estátua, o prefeito de Bristol, Marvin Rees, anunciou que ela será recuperada e exibida ao lado de cartazes dos protestos recentes para que a história da escravidão e a da luta pela igualdade racial possam ser melhor compreendidas.

Já a HBO informou que o filme será disponibilizado novamente na plataforma de streaming, em data ainda não definida, junto com uma discussão de seu contexto histórico. Mas nenhum corte será feito: "Porque fazer isto seria como dizer que estes preconceitos nunca existiram", disse a empresa. Apagar filmes não vai apagar o racismo, observou o crítico Roberto Sadovski.

Acho as duas atitudes corretas. Apagar o passado não é a melhor forma de evitar que ele se repita no presente ou no futuro. O mesmo vale para "Friends": a falta de diversidade na série é um registro histórico. Assisti-la hoje com um olhar crítico é necessário, mas "cancelá-la" é uma bobagem.

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