Ator de Chiquititas morto era contra armas e planejava morar com namorada
"Não podemos mudar o mundo a menos que mudemos a nós mesmos". A frase de descrição de Rafael Miguel no Facebook ajuda a entender um pouco quem era o jovem ator de 22 anos, que foi assassinado no domingo junto com os pais, João Alcisio e Miriam Selma.
Anos antes entrar para o elenco do remake de "Chiquititas", no SBT, aos 7 anos, o garoto já conquistara o carinho da professora Luciene Grisolio, que acabou se tornando uma amiga da família.
"Era um menino adorável e um doce de pessoa", define a professora, que dava aulas de educação artística à época e tinha um grupo de teatro do qual Rafael fazia parte. Os dois nunca perderam contato e, segundo ela, conversavam frequentemente. Fora da TV desde a novela, o plano de Rafael, que atualmente trabalhava como professor de inglês, era se dedicar cada vez mais a espetáculos de stand-up.
"Em novembro ele fez a primeira apresentação, estava dando os primeiros passos. Ele disse: 'Vou dar o melhor de mim na minha volta ao palco'. Também tínhamos um projeto de fazer animações em hospital como fazem os Doutores da Alegria", conta a professora.
O jovem que ficou famoso ainda na infância como a criança que pedia à mãe que comprasse brócolis em um comercial de TV curiosamente detestava o vegetal. "Desde pequeno ele odiava brócolis. Depois que cresceu começou a comer um pouco, mas não gostava nem de azeitona", lembra.
Luciene diz que não chegou a conhecer Isabela, a namorada de Rafael, mas ele costumava falar do romance. O ator, afirma a professora, também já havia se queixado do comportamento do sogro, o comerciante Paulo Cupertino, autor dos tiros que mataram Rafael e seus pais, segundo a polícia.
"Eu brincava com ele: 'Ainda não conheço [sua namorada], você só vai casar se tiver minha bênção'. Ele ria! Eu sabia que o pai não queria [o namoro], mas não sabia da gravidade. Ele falava: 'O pai dela não quer que a gente namore, não deixa a gente sair, é muito controlador...'".
A professora espera que "a justiça seja feita" e que o autor do assassinato pague pelo crime. Ela também pretende entrar em contato com Isabela. "Quero olhar nos olhos dela e ter uma conversa. Ela é uma vítima tanto quanto a família. O pai já era violento e uma tragédia dessas nunca iria passar pela cabeça dela. Ela deve estar se culpando e sofrendo muito", acredita.
Rafael Miguel tinha duas irmãs, Camilla, de 26 anos, e Isabele, de 13. Camilla falou sobre a tragédia pelas redes sociais e agradeceu o apoio: "Agradeço imensamente cada uma das incontáveis mensagens de amor e acolhimento. Peço desculpas por não ter respondido a cada um dos amigos e reportagens que tentaram contato, mas estou em um momento de luto e assimilação de tudo que aconteceu, não consigo me pronunciar sobre justiça, nem como vamos seguir a vida".
Planos de morar com Isabela
Aluna em uma das escolas onde Rafael dava aulas de inglês no bairro de Perdizes, na zona oeste de São Paulo, Bianca Bianchi, de 22 anos, tinha no jovem mais do que um professor. Durante as aulas, os dois conversavam sobre a vida e os planos que tinham.
"Tivemos uma aula sobre planos para o futuro e ele me contou que queria fazer stand up. Ele também estava com planos de mais para frente mudar de país com a namorada e viver de stand up em inglês", conta.
Segundo Bianca, Rafael disse que não gostava muito da exposição e do assédio da televisão e costumava falar bastante da namorada: "Ele sempre falou muito bem dela. Lembro que me perguntou sobre aluguel perto de onde eu moro porque ele queria se mudar com a namorada. Em todos os planos dele ela estava inclusa".
Tranquilo, o jovem também era contra o porte de armas e se posicionava contra uma das bandeiras de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PSL). "Ele era contra armas de fogo e violência. Disse para mim que nunca tinha brigado na vida".
"Era um jovem cheio de convicções, não concordava com o atual governo, não concordava com porte de armas e violência. Mas isso era uma coisa que ele convivia diariamente pois ele morava em um bairro meio pesado de São Paulo. Ele não podia mudar o meio em que estava, mas estava esforçando pra mudar a sua realidade", define.
Confundido, amigo foi dado como morto
O ator Filipe Cavalcante não conseguia entender por que, no domingo, começou a receber mensagens e ligações de pessoas que queriam saber se estava bem. Colega de Rafael Miguel em Chiquititas, na qual viveu o personagem Rafa, ele havia sido alvo de uma notícia falsa.
"Foi uma confusão de troca de nome porque o meu personagem se chamava Rafa. Depois de esclarecer que não era eu [que havia morrido], descobri que a pessoa era o meu amigo Rafael. Fiquei arrasado, desnorteado e sem saber o que falar", explica.
Emocionado, Filipe se lembra do dia em que falou com o amigo pela primeira vez nos bastidores da novela do SBT. "Falei para ele: 'Acho que te conheço de algum lugar. Tu era o garoto do brócolis!'. Ele todo tímido... Quem diria que ali fosse começar uma grande amizade".
Após o fim das gravações, os dois chegaram a fazer testes juntos para outros trabalhos e trocavam mensagens eventualmente.
"Ele tinha muitos sonhos que infelizmente foram interrompidos. Falava muito da namorada, era completamente apaixonado".
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