Apresentador gato do Tricotando sobreviveu com miojo e bicos antes da TV
Para Franklin David, estar na televisão era algo que "tinha que acontecer". Depois de uma passagem como repórter do TV Fama, o apresentador está à frente do Tricotando, programa sobre o mundo de celebridades exibido pela RedeTV!, em que divide a bancada com Lígia Mendes e Val Marchiori.
Comandar um programa era um desejo de Franklin desde que, ainda criança, assistia à televisão de casa na pequena Botuporã, no interior da Bahia. Não havia muito mais o que fazer e ele sonhava um dia ter uma atração como o Programa H, que Luciano Huck apresentou na Band.
"Sempre fui de família pobre. As pessoas já tinham um rumo na vida e eu só tinha sonhos", relembra ele ao receber o UOL nos estúdios da RedeTV! em Osasco, na grande São Paulo, horas antes da gravação.
O caminho não foi exatamente fácil para quem se jogou em São Paulo com apenas R$ 650 na carteira e, ele lembra, não tinha muito na despensa além de macarrão instantâneo e ervilhas. Tudo mudou quando recebeu um convite para desfilar, o que não apenas o levou a ser o primeiro modelo da marca John John, mas ajudou a abrir as portas para a TV.
Logo, o "repórter gato" do TV Fama chamou a atenção também nas redes sociais, que transformou em mais uma vitrine do seu trabalho, compartilhando sua rotina de exercícios, dieta agora saudável e, por que não, conseguindo uma forma extra de lucrar via internet.
"Tenho orgulho da minha trajetória, tudo que conquistei foi com muito esforço. Tudo que conquistei foi com muito suor. Quando olho essa história faz com que eu queira ir muito mais além.".
Mas a vida do agora apresentador não se resume a passarelas e eventos com famosos. Após a estreia na TV, vieram o falecimento dos avós, a descoberta do câncer da mãe. As reviravoltas não desanimaram o baiano, que conta sua história ao UOL no depoimento a seguir.
Longe de casa
"Eu sou de uma cidadezinha no interior da Bahia chamada Botuporã, que tem 10 mil habitantes. Lá é mais ou menos assim: você faz o segundo grau e vê todos os seus amigos planejando para onde ir.
Os meus pais se separaram assim que nasci. Era uma cidade pequena, do interior, onde, há 32 anos, tive que ser registrado pelos meus avós porque minha mãe não podia ser uma mãe solteira, era inaceitável ter só o nome dela no documento. Cresci sem a presença do meu pai.
Só que meus avós realmente fizeram jus ao que estava no documento e foram meus pais. Tive duas mães: a minha mãe e a minha avó. Não tenho do que reclamar, foi uma infância simples, humilde, mas nunca me deixaram faltar nada. De jogar bolinha de gude, se pendurar no pé de manga, jogar futebol na rua e arrancar o tampão do dedo. Guardo lembranças maravilhosas.
Com uns 13 anos, comecei a colecionar Playboy. Tinha o desejo de trabalhar com jornalismo ou com fotografia. A Playboy tinha o Bob Wolfenson, o J.R Duran. Uma revista que tinha, sim, uma carga erótica, mas que conseguia passar tamanha sensibilidade. Fiquei nessa dúvida: fotografia e jornalismo. Aí o jornalismo falou mais alto.
As pessoas já tinham um rumo na vida e eu só tinha sonhos. Aí descobri que tinha familiares em São Paulo, que não tinham contato com a minha mãe. Tratei de estreitar esses laços, falei que queria vir passar férias aqui, já muito decidido do que eu queria, que era fazer jornalismo e tentar a vida.
Cheguei em São Paulo com R$ 650, não me esqueço nunca disso. Era o dinheiro contado que eu tinha, que a princípio seria para passar férias, porque não falei para a minha tia e prima que estava indo de mala e cuia para ficar na casa de vocês, até porque não conhecia ninguém.
Eu trabalhei em lojas de shopping, uma de celular e outra de roupas --o que foi bom depois para modelar. Brinco que já tinha uma experiência. Trabalhei com telemarketing também. Foi a primeira experiência. O salário era de R$ 350. Foi uma fase difícil: era ervilha, miojo e uma coxinha que tinha próximo de lá. Tinha que pagar a faculdade e rachar as despesas.
Eu tinha todas as razões do mundo para desistir e falar: 'Vou voltar para a casa da minha mãe, pra minha cidade, lá não vou sofrer'. Mas eu queria tanto, tanto que fui em busca".
Desfilando para Silvio Santos
"Um dia, um cara me abordou na rua e falou: 'Acho que você tem um estilo diferente'. Decidi pagar pra ver. Já tinham chamado antes, mas sempre achei que fosse ter que pagar um book, que fossem tirar dinheiro de mim, coisa que não tinha.
Fechei um comercial de biscoito que o Lima Duarte participou e era cinco vezes mais do que eu ganhava na época trabalhando no shopping. Graças a Deus trabalhando como modelo consegui ter uma estrutura melhor, e aí tudo foi acontecendo, fui saindo do perrengue.
Eu tenho que agradecer muito a Deus por ter um metabolismo acelerado, uma genética boa, porque de fato não sei como é que conseguia ter um corpo mais ou menos legal pra ser modelo comendo o que eu comia.
Fui o primeiro modelo da John John, antes do Zac Efron. Fiz até um desfile no programa do Silvio Santos. Foram 30 minutos sendo entrevistado pelo Silvio, uma experiência maravilhosa, de ele pedir para eu arrancar a bermuda e ficar de sunga. Foi espetacular!".
Entre a China e a RedeTV!
"Estava modelando e tinha planos de ir para fora. Fiz de tudo um pouco, tinha vários contratos vigentes e não conseguia mais trabalhar aqui. Falei: 'Vou viajar, fazer um mocilhão na China'. Eu tenho esse espírito aventureiro.
Decidi que ia para a China, combinei tudo com a agência. Mas, paralelo a isso, eu gravava para um blog. O que todo mundo faz hoje, de ter um canal, eu fazia lá atrás, para um blog chamado Revista Que Amamos, que era uma brincadeira com uma das sessões da Playboy. Eu falava com as meninas que poderiam ser a capa da revista, as que tinham sido no passado.
Aí aconteceu de um dia ir a uma quadra de escola de samba gravar com a Tânia Oliveira, uma ex-panicat que tinha feito a revista. Cheguei lá e tinha uma galera da imprensa. Subimos para o camarote e gravei com Tânia.
Chegou uma equipe do TV Fama que pegou bem o comecinho da minha entrevista. O repórter começou a gravar com a Tânia e a pauta dele foi exatamente a minha. Falei: 'Opa, se esse cara chupinhou a minha pauta pra um programa de TV, por que eu não posso ir para o TV Fama?'".
Eu já conhecia a Mônica Apor, que tinha posado para a Playboy e na época era repórter do TV Fama. Mandei mensagem pra ela e perguntei se podia levar meu material ao programa. Liguei para uma coordenadora de produção que era linha-dura e falou: 'O diretor está afastado, liga depois'. Desliguei o telefone meio desmotivado. Dias depois, liguei de novo, uma semana antes da minha viagem.
O diretor atendeu, resumi minha história e ele falou para eu mandar meu currículo. Estava atualizando meu currículo quando a Mônica me ligou: 'Você pode vir aqui amanhã trazer seu material'. Falei: 'Claro!' Mas eu não tinha nada pronto. Aprendi a editar naquele dia, baixei um programa, fui a uma papelaria, comprei umas capas de DVD, montei a capa, fiz a edição e levei.
Quando cheguei na sala do TV Fama, olhei para a mesa e vi aquela pilha de DVDs em cima da mesa. Fiquei desmotivado. O diretor falou: 'No momento não temos vaga, mas quando surgir entro em contato'. Fui um pouco ousado e falei: 'Confesso que diante da negativa pretendo sair daqui e mandar esse material para outro programa de TV, só queria sua opinião enquanto diretor'. Ele assistiu e disse: 'Tem uma repórter que está de licença-maternidade e volta em 54 dias'. Fiz um teste, entrei. Passou o período, a repórter voltou, e eu nunca mais saí".
O início do Tricotando
"Quando rolou o convite do Tricotando falei que era a hora. Eu já pensava em daqui a pouco não estar mais no TV Fama e buscar o que eu queria. Foram anos de dedicação ao programa, mas o meu ciclo realmente já estava se encerrando. Adorei o projeto [do Tricotando] e prontamente aceitei.
Sempre tive responsabilidade, principalmente quando entrei [na apresentação], porque você deixa de ter o artista falando pra você e você começa a falar do artista. Acho que a responsabilidade triplica. Não vale fazer qualquer coisa para dar notícia, jamais passaria por cima de ninguém".
"O tanquinho é de verdade?"
"Sempre fiz questão de deixar muito claro de que eu era profissional, seja modelando ou como repórter. O fato de modelar, estar em uma foto mais sensual, e estar ali como repórter são coisas distintas. O erro acontece quando as pessoas querem misturar isso.
As pessoas veem foto e querem saber: o tanquinho é de verdade? Ou encosta em você e fala: 'Nossa, que duro'. Quando faço evento, presença VIP, desfile, no momento da foto, tem sempre uma engraçadinha que te abraça e vai descendo a mão.
Recentemente, fui ao centro de São Paulo e passei em uma loja de cosméticos. Tinha umas oito mulheres, vendedoras da loja, que queriam fazer foto. Uma delas, de maneira muito ousada, falou: 'Eu quero fazer a foto, mas só se puder pegar na sua barriga'. Por um instante você fica vermelho, mas chega uma hora que fica normal.".
"Primeiro eu vivo, depois eu posto"
"As pessoas querem saber o que você faz. Não é todo dia que dá pra postar o treino. Tem dia que estou na academia me arrastando. Você está oferecendo para as pessoas que gostam de você, que acompanham seu trabalho, aquilo que elas querem ver. As pessoas querem saber a fórmula de ter o tanquinho, você começa a mostrar.
Eu acho que continuo tendo uma genética boa [risos]. Tem uns cinco anos que comecei a fazer dieta, não fazia. Conheci um médico namorado de uma amiga. Mudou a minha vida, comecei a ter hábitos saudáveis.
Quando comecei a modelar tinha campanha de cueca e eu estava na padaria comendo batata frita, X-salada e tomando refrigerante. Aconteceu naturalmente [a rotina saudável] e não virou uma cobrança, consigo me respeitar, não virei escravo dessa rotina. Se não quero ir para a academia não vou e posto quando acho que devo. Não posso viver em função da rede social. Primeiro eu vivo e depois eu vou pra rede.
Existe um interesse [comercial]. Você vende a questão da saúde, do bem-estar, automaticamente é interessante pra algumas marcas também. Tenho um produto que leva minha assinatura, minha cara, com o tanquinho, obviamente. É um gel redutor de medidas."
"Ouvi meu avô morrer pelo telefone"
"Coisas que tinham valor lá atrás, hoje já não têm mais. Perdi meu avô há dois anos. Ele faleceu em duas semanas, foi um trauma. Não tinha tempo pra ir pra Bahia. Liguei liguei pra minha mãe no momento em que ele estava falecendo, acompanhei todo esse processo no viva voz. Minha mãe deixou o celular cair e fui ouvindo-o falecer.
Tempos depois a gente descobriu que minha mãe estava com câncer. Com o falecimento do meu avô, ela começou a cuidar da minha avó. Ela não conseguia tratamento lá, uma biopsia ia demorar dois meses. Consegui trazer as duas para São Paulo, sem a menor estrutura. Você imagina o que é vir para São Paulo tratar um câncer sem plano de saúde? Tudo parecia muito difícil, mas rolou um desespero de falar: 'Não vou deixar minha mãe morrer'.
Ver minha vó aqui em São Paulo foi a realização de um sonho. Nunca vou esquecer ela chegando no aeroporto. Durante o tratamento da minha mãe, minha avó faleceu. A mulher mais importante da minha vida, isso mexeu muito comigo. É difícil passar por uma perda.
Eu já tinha tido a do meu avô e a da minha vó foi realmente um choque. Minha mãe estava no ápice do tratamento, tinha acabado de fazer quimioterapia. Me vi no fundo do poço, cuidei de todo mundo o tempo inteiro, mas você não para para cuidar de si. Não via motivação pra continuar. Foi pesado, mas você tem que tirar aprendizado nessa história toda. Tenho hoje minha mãe, minha irmã e amigos que faço pela vida, que considero como família.
Não deixo para dizer 'te amo' amanhã, vivo muito o agora. Família é tudo. Não adianta você ter o melhor carro, o melhor apartamento, a vida mais glamourosa, se você não tiver aquilo que realmente faz sentido.
Na perda, você se vê sem fé. Tive depressão, mas consegui me reerguer e hoje consigo agradecer a Deus por ter permitido que eu passasse os últimos meses de vida da minha avó com ela em casa. Estou sempre agradecendo".
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