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Ex de Senna se culpa por boato de que ele seria gay e lembra maior decepção

Adriane Yamin e Ayrton Senna; o relacionamento do casal é o tema da biografia "Minha Garota" - Reprodução/Instagram
Adriane Yamin e Ayrton Senna; o relacionamento do casal é o tema da biografia "Minha Garota" Imagem: Reprodução/Instagram

Felipe Pinheiro

Do UOL, em São Paulo

12/02/2020 12h00

Adriane Yamin decidiu passar a limpo a história de amor que viveu com Ayrton Senna. A empresária, que por anos evitou se pronunciar, escreveu o livro "Minha Garota" (independente), lançado no fim do ano passado, em que narra em detalhes o relacionamento com o piloto de Fórmula 1 e ídolo nacional. Em entrevista ao UOL, Yamin afirma que por décadas optou pelo silêncio e reconhece como foi libertador reviver os momentos bons e ruins com aquele considerado o grande amor de sua vida.

"Tranquei essa história por 30 anos porque não me permitia pensar. Eu queria tocar minha vida. Terapeuticamente, foi muito bacana escrever esse livro, que foi feito com gargalhadas e muitas lágrimas. Tem choro nas minhas palavras. Eu sentia culpa e tive dificuldades de ter outra relação com um rapaz enquanto escrevia o livro. É uma história que mexe muito comigo. Foi realmente um mergulho. Revivi adulta essa história, que estava mal resolvida. Consegui perdoá-lo e me perdoar, pois percebi onde cada um errou e acertou. Também me deparei com uma menina bastante valente", relata.

A empresária era uma adolescente de 15 anos quando começou a se relacionar com Beco, o apelido pelo qual o piloto era chamado pela família e também por Yamin. Ele tinha 24. A diferença de idade caracterizava o namoro, que era observado de perto.

"Ele tinha que namorar comigo sempre com gente por perto. A primeira vez que ele me chamou para pegar um cinema durante o dia, a minha mãe queria que eu fosse a pé. Eu não podia andar sozinha de carro com ele", conta ela, sobre o impedimento de andar de carro com um homem que ganhava a vida dirigindo.

"Até que um dia choveu. Nós fomos de carro e deu certo. Falei para a minha mãe, desse jeito você vai acabar com meu namoro. E assim conquistei esse espaço. Eu queria parecer mais velha e entre nós não parecia existir essa diferença de idade", ressalta ela, que cita alguns fatores para parecer mais madura como o corpo atlético por conta dos esportes que praticava e a boa educação recebida dos pais.

Yamin se refere a Senna como "um cara diferenciado" por ter aceitado os limites previamente estabelecidos pela família da namorada. Tanto é que os dois entraram em acordo sobre a decisão de postergar a primeira relação sexual, que aconteceu somente quando ela atingiu a maioridade. Mas, assim como conta no livro, Senna não vivia em abstinência sexual e isso era de conhecimento dela. Os dois mantinham um relacionamento aberto. Pelo menos para ele.

Adriane Yamin - Divulgação - Divulgação
Adriane Yamin, autora de "Minha Garota"
Imagem: Divulgação

"Ele chegou a me questionar, 'você é uma menina de 15 anos e eu tenho as minhas necessidades de homem feito'. Eu falei para ele: 'faça com as outras o que não vai poder fazer comigo agora'", se recorda. Mas a namorada do piloto não conseguiu se proteger suficientemente para evitar o sofrimento. O que não havia ficado claro para ela é que o seu Beco transaria com mulheres também no Brasil, e não somente quando estivesse viajando.

"A minha decepção é que, na minha inocência, achei que ele fizesse essas coisas quando estava longe de mim. O namoro evoluiu, inclusive com toques. Eu fui me descobrindo como mulher com ele. Não achava que ele transaria com outras aqui no Brasil, já que ele tinha a mim. Um dia ele falou ingenuamente sobre isso como se eu soubesse. Mas já não cabia ele estar com outras porque eu estava para fazer 18 anos", afirma.

Se considera que houve traição? Ela não vê desta forma: "A minha decepção foi uma ilusão da minha parte. Uma ilusão romântica do homem".

Ele ficou constrangido quando percebeu a minha visão da coisa. Ele não fez com a intenção de me trair, mas como parte do jogo. O jogo era um pouco diferente do que eu imaginava e aquilo me machucou. Ele ficou muito mal por isso e com medo de me perder. Ele não queria me magoar

Os boatos sobre a orientação sexual de Senna

Ayrton Senna -  -

O namoro entre Senna e Adriane Yamin se manteve em segredo para que ela, menor de idade, não fosse exposta. A intenção era protegê-la de um escândalo, mas com isso os burburinhos sobre a orientação sexual do piloto ganharam força.

"Ele não aparecia com ninguém porque estava comigo. E não podia aparecer com outras mulheres para eu não saber. Esse veneno [sobre Senna ser gay] foi jogado para desestruturá-lo e eu me sentia muito culpada. Ele estava sendo caluniado por minha causa. As pessoas até me perguntam, 'é verdade que ele era gay?'. Foi um boato nascido por minha culpa e ele aceitou. Isso fazia mal para ele. Sempre soube que algum dia eu teria que contar essa história", afirma a empresária.

O momento mais difícil

Uma das maiores decepções relatadas por Yamin aconteceu logo após ela perder a virgindade com Senna. No livro, a empresária descreve em detalhes como foi a sua primeira vez. No entanto, no dia seguinte, ela conta que o namorado não a procurou e pior: Senna considerou que ela mentiu sobre ser virgem por não ter sangrado.

Eu tinha sido absolutamente correta. Duvidar de mim foi extremamente ofensivo. Era algo que eu estava guardando há tanto tempo. Eu não poderia prever a frieza com que seria tratada em seguida. Um namorado querido, romântico, atencioso e de repente... Parecia que era outra pessoa. Não acho que ele fez por mal, mas porque não soube lidar com a situação

As outras namoradas, como Xuxa e Galisteu

Depois de Adriane Yamin vieram outras namoradas, sendo as mais famosas Xuxa Meneghel e Adriane Galisteu. A empresária diz que a separação coincidiu com um novo momento profissional do piloto. Ele cada vez mais se desprendia do Beco e se assumia como Senna, o herói nacional.

Adriane Galisteu e Ayrton Senna -  -
Adriane Galisteu e Ayrton Senna

"Eu namorei o Beco e não o Ayrton Senna. E ele tinha esse conflito porque eram duas pessoas diferentes. Eu era a maior âncora para ele manter a integridade da versão Beco, que era a origem dele. Ele virou campeão e a âncora se soltou. Ele se desprendeu do Beco e de mim", diz.

Inserido neste novo cenário, um "mundo de glamour", nas palavras de Adriane, o piloto conheceu as namoradas famosas: "Ele buscou uma pessoa que combinava mais com aquela fase do oba oba. A Xuxa, assim como outras, foi um aprendizado. Ele queria ser uma pessoa diferente da essência dele". Sobre Galisteu, ela pensa da mesma forma, mas algo chama mais a sua atenção: "Eu a via como outra qualquer. Engraçado ser uma pessoa como o mesmo nome que o meu. Achei isso pitoresco. Mas eu não tinha mais nada a ver com a vida dele".

"Eu também tinha as minhas experiências e buscava substituí-lo. Eu acreditava que se eu estava presa àquele sentimento genuíno. Eu não achava que seria justo. Por que eu estou presa a esse sentimento? Existia uma sintonia tão especial. Por que não consigo achar de novo essa sintonia? Se para mim, que tenho uma vida normal, era difícil, imagina para ele no mundo em que ele vivia. Não era viável", analisa.

"Ele tem o direito de ser imperfeito"

Adriane Yamin e Ayrton Senna - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Adriane Yamin e Ayrton Senna
Imagem: Reprodução/Instagram

Ídolo nacional, Ayrton Senna foi imortalizado como herói, quase como um deus, após o acidente fatal no Grande Prêmio de San Marino, em Ímola, na Itália, em 1994. Adriane não teve medo de expor a humanidade do piloto de F1, mas ela reconhece que a decisão teve um preço: o lançamento de "Minha Garota" de forma independente.

Ayrton tem o direito de ser falho e de ser humano. Isso não quer dizer que ele deixou de ser a pessoa maravilhosa que ele era. Ele não deixa de ser um superexemplo porque não era perfeito e porque teve fraquezas. Ele tem direito, meu Deus. E foi justamente por isso que tive dificuldade com as editoras, que temiam retalição da família. Mas a família dele me respeita. Não tem nada que não seja verdadeiro no livro e a família sabe disso. Não estou ofendendo ninguém. Houve mágoa, mas foi contada com a emoção suficiente. Ele foi o amor da minha vida.