Coronavírus: o público brasileiro está preparado para ficar sem novela?
A notícia de que a Globo suspenderia suas novelas por conta da pandemia de coronavírus, paralisando gravações e exibindo reprises no lugar, causou surpresa entre o público. Até a principal trama da emissora, "Amor de Mãe", sairá do ar já neste sábado. Em seus quase 55 anos de história, nunca a Globo voluntariamente deixou de exibir folhetins.
Além da Globo, SBT e Record também estão paralisando suas produções de dramaturgia. Mas, afinal, o brasileiro está preparado para ficar sem novelas inéditas na televisão, algo que já faz parte de sua rotina?
A professora da Escola de Comunicação e Artes da USP (Universidade de São Paulo) Maria Cristina Mungioli reforça que é uma situação inédita na história e que é difícil prever como o público vai reagir. "Acho que os espectadores vão sentir. É uma situação inédita, nós nunca tivemos isso. Tivemos novelas que foram tiradas do ar por conta de censura, ou novelas que saíram do ar devido a falência de canais de TV", explica ela.
Em 1975, "Roque Santeiro" teve sua exibição proibida pelo regime militar, sendo substituída pela reprise da novela "Selva de Pedra".
"A novela das 21h faz parte do cotidiano do brasileiro e ainda é o carro chefe da TV aberta. Com certeza essa decisão das emissoras terá um impacto social e econômico", reforça a professora que, no entanto, concorda com a decisão.
"A Globo está tomando o cuidado de colocar outras novelas como substitutas, está substituindo pelo mesmo formato. E, além disso, tem uma quantia enorme de séries inéditas que estão no Globoplay."
Mistura de estilos
A professora Immacolata Vassallo Lopes, pesquisadora do Centro de Estudos de Telenovela da ECA-USP, não acredita que o público deixará de acompanhar as novelas que estão no ar.
Na verdade, ela vê a situação como uma possibilidade de testar outros formatos para a exibição de telenovelas, enfatizando que hoje os espectadores já estão acostumados a outros produtos de entretenimento e que é possível fazer combinações de estilos.
"A tendência é que as pessoas assistam muito mais televisão em casa [durante este período], seja aberta, a cabo, ou em streaming. Eu acho que o público também tem passado por outras experiências, de ver alternativas, de assistir mais a séries, por exemplo. Aposto que a audiência não vai sumir. A maior parte do público não é conservadora."
Ela ressalta que agora a Globo já está falando em "fim de temporada" para justificar a ausência de "Amor de Mãe", o que mostra uma influência dos seriados nas novelas. "A serialização é uma maneira de contar uma história."
Marcas apoiam a Globo
Outro aspecto importante a se levar em conta com a suspensão de novelas é o comercial. Principal produto da TV brasileira, a telenovela das 21h conta com uma série de patrocinadores e milhões de reais em investimentos para a emissora. Sem "Amor de Mãe", como ficam as parcerias?
A Tim, uma das empresas que anunciam na trama de Manuela Dias, diz que não precisou cancelar nenhuma ação. Que, por enquanto, a parceria com a Globo segue e que, quando a questão for normalizada, voltará a conversar com a emissora.
Segundo a Tim, "a principal preocupação, neste momento, é preservar seus colaboradores, famílias e sociedade e contribuir com o controle da transmissão da doença".
A Del Valle, outra anunciante, também reforça que apoia a decisão da Globo. "Del Valle apoia a decisão da TV Globo de suspender as gravações e não colocar os atores e as equipes em risco."
Já a Casas Bahia, que também anuncia na novela, preferiu não se manifestar ao ser procurada pela reportagem.
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