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Malu Galli fala de novela na quarentena, zap com atores e Lídia alcoólatra

Débora Miranda

Do UOL, em São Paulo

02/04/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Em decisão inédita, Globo interrompeu gravações por causa do coronavírus
  • Segundo Malu, elenco conversa por WhatsApp enquanto cumpre a quarentena
  • Ela ainda conta sobre como foram os momentos finais de gravação e a expectativa para o retorno
  • E fala do ódio que o público sentia de Lídia, sua personagem, e como ela está vivendo uma fase sensível

"Era um momento de incerteza, porque a gente já estava com uma sensação de que não deveria estar ali." Malu Galli, a Lídia de "Amor de Mãe", lembra como foram os momentos finais de gravação da novela, interrompida por causa do coronavírus. Em decisão inédita, a Globo parou todas as suas tramas, colocando reprises no ar. As equipes foram afastadas do Projac, a fim de cumprir o isolamento social estabelecido no país.

De sua casa no Rio, em uma entrevista feita remotamente via internet, Malu Galli contou ao UOL o que vem fazendo enquanto aguarda o momento de retomar o trabalho. A atriz revelou que ela e o elenco mantêm um grupo de WhatsApp pelo qual conversam diariamente, mandam fotos, vídeos e brincadeiras.

E também falou sobre Lídia, personagem que já deixou o público com raiva, mas que estava vivendo uma fase bastante sensível enfrentando o alcoolismo —naquilo que vem sendo chamado de primeira temporada da trama.

"É uma grande satisfação perceber a trajetória que ela teve junto ao público, de despertar ódio num primeiro momento, pela maneira como ela tratava a empregada, pela maneira arrogante, e como ela de repente virou uma mulher comum, com quem todo o mundo consegue ter empatia. Ela sofreu, perdeu o filho, foi chantageada pelo namorado que ela amava. Depois teve o alcoolismo, que jogou ela num lugar muito humano, patético, que gera pena mesmo."

Leia, abaixo, trechos da entrevista.

malu galli em amor de mãe - Divulgação/TV Globo - Divulgação/TV Globo
Malu Galli interpreta Lídia, na novela "Amor de Mãe", da Globo
Imagem: Divulgação/TV Globo

UOL - Desde quando você está sem gravar?

Malu Galli - Estou sem gravar tem umas duas semanas. Viajei para fora do Rio, tenho um sitiozinho em Minas, num lugar bem escondidinho, mas agora voltei porque meu filho tem aulas na faculdade. As aulas vão ser online, e a internet lá é impossível. Hoje [segunda-feira] é meu primeiro dia no apartamento, na cidade. É uma loucura, agora que acho que está caindo a minha ficha de como será a minha vida daqui para a frente, reclusa.

O que você tem feito?

Eu estava terminando de escrever um projeto, nas últimas duas semanas. Agora ou vou ler, ver séries. Uma amiga me passou o link dos filmes do Oscar, vou ver vários que não vi. Botar tudo em dia, os filmes, os livros, os papos com os amigos. Fazer ginástica em casa, ioga na varanda. Eu gosto de correr na praia, não sei se pode.

Acho que não está podendo...

Não mesmo? Nem na praia da Barra [da Tijuca, no Rio], que é tão larga a faixa de areia? Bom, vou fazer ginástica em casa, cozinhar, pegar meus livros de receita.

Você vê "BBB"?

Olha, o meu filho vê. Estávamos juntos no sítio, só tinha uma televisão, então, à noite ele via, e eu acabava vendo um pouco. Torço pelo Babu, que é colega e que é um cara bacana, mas não conheço muito os outros. "BBB" nunca me pegou. Agora, nestes tempos de confinamento, é capaz de me pegar.

malu galli - Bruna Sussekind/Divulgação - Bruna Sussekind/Divulgação
A atriz conta que recebe muitas mensagens do público sobre a novela
Imagem: Bruna Sussekind/Divulgação
A suspensão de uma novela é algo inédito. Como você e a equipe enfrentaram isso?

Eu estive no último dia de funcionamento da novela, numa noturna, num sábado, e logo na segunda-feira não teve mais [gravações]. Então, participei dos últimos momentos. E já era um momento de incerteza, porque a gente já estava com uma sensação de que não deveria estar ali. Mas foi tudo muito rápido, e a Globo agiu rapidamente. Eu parabenizo mesmo as pessoas que tiveram essa coragem, porque foi uma das primeiras empresas a parar, e acho que foi acertada a decisão. Mas naquela noturna, no sábado, a gente comentava: "Como é que vai ser?". Ficou falando nisso o tempo todo. A gente estava meio perplexo. E no domingo recebemos o telefonema já explicando o que ia acontecer. É muito estranho, nunca tinha acontecido de uma novela parar. Parecia que a gente estava vivendo uma coisa muito absurda. A gente estava muito envolvido com o trabalho, aí para, suspende. Num primeiro momento a gente achou que a pausa seria curta. Sei lá, de um mês. Mas começou a pensar e viu: "Gente, não vai ser um mês". Na verdade a gente ainda não teve essa comunicação oficial de quanto tempo vai ser, mas eu acredito que deva ser entre dois e três meses pelo menos.

Vocês têm conversado? Têm grupo de WhatsApp?

A gente tem um grupo oficial, que foi criado pela produção, para falar dessa pausa e fazer os comunicados oficiais da empresa, mas a gente tem um grupo alternativo, nosso, do elenco, que é de brincadeiras, de bastante intimidade. A gente fica falando o que cada um está fazendo, coloca muito vídeo, muita foto, memes, brincadeira. É um grupo descontraído, e a gente tem estado bastante em contato.

Quando acabar a quarentena, como voltar? Como retomar a personagem e a história depois de meses?

O que eu acho interessante é que a Manuela Dias tem esse perfil de autora de série, e a novela tem muito uma cara de série. Os ganchos finais dos capítulos eram ganchos de episódios de séries. Então, já tem essa levada. E [a pausa] foi tratada como o final da primeira temporada.

Estou achando que essa novela vai marcar a história nesse sentido também: vai ser a novela do coronavírus, mas também vai ser a primeira novela dividida em temporadas.

E é engraçado e curioso, porque a gente já estava no quarto mês de gravação, e é um momento em que cansa mesmo. Aí, foi sábio. Parou ali e agora a gente vai voltar para finalizar. Eu acho que vai ser muito legal essa volta, quando tudo vai se revelar, se resolver.

Você acha que o público vai ter dificuldade de embarcar de novo na história?

Acho que não. As pessoas ficaram nessa suspensão, esperando a segunda temporada. De alguma maneira, já estão mais habituadas. Não a grande maioria do povo brasileiro, que ainda está muito na TV aberta, mas uma grande fatia da população já consome as séries, já está acostumada com essa coisa de esperar a próxima temporada.

Como tem sido viver a Lídia? Acha que é seu melhor papel na TV?

Não sei se é o melhor papel que eu fiz na TV. Eu coleciono alguns papéis que foram muito muito importantes para mim, que me exigiram dedicação grande. Mas novela das nove é imbatível no sentido do alcance. E eu nunca tinha feito uma novela das nove. A Lídia é especial, porque realmente ela tem muitas facetas. É uma grande satisfação perceber a trajetória que ela teve junto ao público, de despertar ódio num primeiro momento, pela maneira como ela tratava a empregada, pela maneira arrogante, e como ela de repente virou uma mulher comum, com quem todo o mundo consegue ter empatia. Ela sofreu, perdeu o filho, foi chantageada pelo namorado que ela amava. Depois teve o alcoolismo, que a jogou num lugar muito humano, patético, que gera pena mesmo.

Como tem sido a repercussão com o público? Você recebe mensagens?

Sim, as pessoas falam muito. Tinham raiva dela pela forma como tratava a Penha [Clarissa Pinheiro].

A Lídia se mostrava uma pessoa até legal com outros personagens, mas quando lidava com a Penha tinha todo o ranço do país escravocrata, da aristocracia sem empatia. E as pessoas ficavam muito chocadas com isso, tinham muita raiva da Lídia.

Mas como ela sempre teve muito humor também, as pessoas odiavam achando graça e ficavam num lugar meio confuso. O que eu acho maravilhoso. Como você pode rir de alguém que odeia?

Ela já viveu questões femininas que vêm sendo muito discutidas, como a rivalidade entre mulheres e os rótulos de louca e histérica. Acha importante que a novela mostre isso?

Ela começou a novela absolutamente histérica, em colapso. E aí as pessoas falavam: "Ela vai dar na cara da rival, olha mulher batendo em mulher". Isso me incomodou. Ela batia na Érica [Nanda Costa] duas vezes.

Eu dizia: "Meu Deus, por quê? Mais dessa falta de sororidade. Mais dessa competição entre as mulheres que é exatamente o que a gente está querendo mudar, que é o que a gente tem falado e discutido na sociedade. Parece um desserviço! E é uma autora mulher!".

Mas aí a gente conversou muito, inclusive com a Manuela Dias, que foi muito disponível, e eu pude perceber que na verdade era exatamente por isso que ela tinha colocado no início da novela. Porque ela queria tratar desse assunto, porque ela ia fazer a volta. A Manuela construiu esse caminho de forma muito sutil. E não só a Lídia pede ajuda para a Vitória [Taís Araujo], dá as mãos para a namorada do ex-marido, mas depois recebe apoio da Lurdes [Regina Casé], da empregada.

Ela chega a um ponto da história em que ela está no colo da Lurdes, totalmente dependente emocionalmente, numa solidão absoluta. A única pessoa que ela tem ao lado dela é justamente a empregada.

malu galli - Bruna Sussekind/Divulgação - Bruna Sussekind/Divulgação
Malu pede que os brasileiros fiquem em casa, por causa do coronavírus
Imagem: Bruna Sussekind/Divulgação
"Amor de Mãe" está saindo, mas "Totalmente Demais" está voltando.

Foi uma coincidência superfeliz. "Totalmente Demais" vai voltar e "Malhação - Viva a Diferença" também. Então vou estar no ar em dois horários, com dois outros personagens completamente diferentes da Lídia e diferentes entre si também. "Totalmente Demais" foi um trabalho muito feliz, que eu adorei fazer, foi a primeira vez que eu fiz uma personagem popular na Globo. Nas novelas, eu ainda tinha esse lugar do drama, da mulher chique, e a Rosângela me levou para outro lado, completamente diferente, do humor rasgado. Foi uma parceria maravilhosa com o Ailton Graça, meu irmão, que conheci nesse trabalho e ficou meu amigo para sempre.

O que você tem achado de como o Brasil está lidando com o coronavírus?

É impressionante como a gente chegou a um ponto no Brasil em que qualquer coisa serve para alimentar o grande Fla x Flu que virou o nosso país. Até mesmo uma pandemia, que não escolhe raça, religião, classe social nem idade.

O vírus não tem grupo de risco, não tem privilegiados. Tem os privilegiados que podem fazer a quarentena, mas não tem o privilegiado que pega e o que não pega. Todo o mundo pega e todo o mundo pode vir a morrer no CTI, seja no do Albert Einstein ou no do Pedro Ernesto. E, ainda assim, a gente não consegue se ver como um país inteiro, a gente só consegue se ver como um país rachado. De novo tem as fake news, de novo tem os que defendem isso e os que defendem aquilo. Agora, o mais triste é que, neste momento, milhões de vidas estão em jogo. E se realmente a gente não tiver um trabalho unificado no Brasil eu não sei nem o que pode vir a acontecer. É assustador.

Qual é a primeira coisa que você quer fazer quando puder finalmente sair de casa?

Ainda não pensei nisso. Bom, se eu não puder mesmo correr na praia, acho que vou à praia. Mas me deu vontade também de marcar com os amigos e fazer uma festa, talvez. Uma festa de dia, num lugar aberto, bonito. Um grande encontro pode ser legal também.

Tem mais alguma coisa que você acha importante e gostaria de dizer?

Fiquem em casa, pelo amor de Deus! Por amor a quem vocês amam! Por amor, fiquem em casa! É isso.