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Recado de empatia de 'Viva Diferença' é crucial em pandemia, dizem atrizes

Heslaine Vieira, Ana Hikari, Gabriela Medvedovski, Daphne Bozaski e Manoela Aliperti protagonizaram "Viva a Diferença" - Ramon Vasconcelos/Rede Globo
Heslaine Vieira, Ana Hikari, Gabriela Medvedovski, Daphne Bozaski e Manoela Aliperti protagonizaram "Viva a Diferença" Imagem: Ramon Vasconcelos/Rede Globo

Guilherme Machado

Do UOL, em São Paulo

06/04/2020 04h00

"Malhação: Viva a Diferença" se tornou um marco na história da novela teen da Globo. Com bons índices de audiência e grande repercussão, a história de Cao Hamburguer ganhou vida própria, com uma legião de fãs, um prêmio Emmy Internacional Kids e até mesmo um spin-off, chamado "As Five", previsto para ser lançado no Globoplay neste ano. Tamanho sucesso fez com que a trama fosse escolhida para ser reprisada no período vespertino, diante da impossibilidade de uma nova temporada ser produzida por causa da pandemia do novo coronavírus.

As protagonistas, Gabriela Medvedovski, Heslaine Vieira, Daphne Bozaski, Manoela Aliperti e Ana Hikari, enxergam a reprise como mais um reconhecimento. "Fiquei muito feliz. Acho que é o reconhecimento de um trabalho que foi feito com muito amor. Vai ser gostoso poder acompanhar agora com um olhar diferente. Acho que profissionalmente e pessoalmente 'Malhação' me mudou muito. Me sinto mais madura", diz Gabriela ao UOL.

A atriz, que está no elenco de "Nos Tempos do Imperador", novela que teve a estreia adiada por causa da pandemia, também enxerga que a mensagem principal da novela, a de ter empatia pelo próximo, pode ser potencializada no atual momento, em que se discute tanto a solidariedade.

"Acho que vai fazer sentido a gente parar para refletir sobre alguns dos assuntos que a nossa 'Malhação' abordava, e acho que a gente vai conseguir ressignificar também, ver a partir de outra perspectiva", opina.

Essa visão é defendida pela colega de elenco Ana Hikari: "Neste momento pensar no outro é muito importante. Acho que isso tem a ver com uma responsabilidade social e com uma empatia mesmo com o próximo. Por isso que vai ser muito bom essa 'Malhação' estar no ar nesse momento porque vai tocar exatamente nessas feridas: o que é cuidar dos outros".

"É um momento para a gente estar próximo, se apoiando, se conhecendo, lidando com sentimentos de empatia. Eu realmente espero que 'Malhação' possa ajudar a dar um respiro, uma alegria, a promover questionamentos, reflexões, porque a gente está em casa e tem tempo agora para refletir. E a novela tem tudo a ver com esse momento", complementa Heslaine Vieira.

Temas complexos

Lica e Samantha se beijaram em "Malhação - Viva a diferença" - Reprodução/Globo/Twitter - Reprodução/Globo/Twitter
Lica e Samantha se beijaram em "Malhação - Viva a diferença"
Imagem: Reprodução/Globo/Twitter

Exibida entre 2017 e 2018, "Malhação: Viva a Diferença" foi muito elogiada por tratar de temas complexos com delicadeza e também profundidade, aproximando-se muito mais do público jovem do que em outras temporadas. Assuntos como homossexualidade, racismo, problemas no ensino público, preconceito de classe, empoderamento feminino e sororidade foram todos explorados na novela.

Para as atrizes, esse é um dos marcos da temporada, que permitiu ampliar o debate sobre esses temas.

"Consegui conversar com a minha avó, uma senhora de 84 anos, do interior de Minas Gerais, sobre assuntos que nunca tinha pensado. Assistimos a algumas cenas juntas e ela mal sabia sobre racismo e empoderamento feminino. Hoje consigo vê-la discutindo com meus primos, meus tios, as vizinhas. Juro!", emociona-se Heslaine.

Um dos destaques de "Viva a Diferença" foi o casal vivido por Manoela Aliperti e Giovanna Grigio: Lica e Samantha, que ganhou o afeto dos fãs e foi apelidado de Limantha nas redes. A temporada marcou a primeira vez que um casal de duas meninas se beijou na novela.

"A importância de retratar uma realidade é essa, é um pouco a premissa da novela como um todo. A realidade é isso: são orientações sexuais das mais diversas, amizades complexas, questões profundas. Entra na questão da orientação sexual da personagem, claro, mas também entra em uma questão de amizade. Começa como uma amizade, elas são essas garotas livres. Partindo dessa premissa elas experimentam, não é todo mundo que tem essa coragem. Acho Limantha importante para lembrar e falar sobre coragem. O mais importante é as pessoas se sentirem representadas", ressalta Manoela.

A personagem Benê, de Daphne Bozaski, também levantou um tema importante: o autismo.

"Essa responsabilidade e a repercussão que o público teve entrando em contato comigo e falando que se via representado na Benê foi o mais importante. Ainda se falava muito pouco sobre o autismo, acho que isso abriu portas para cada vez mais as pessoas entenderem melhor. Eu acho que o mundo está começando a se preparar um pouco mais para entender o autista", diz ela.

O que o futuro trará

As Five Malhação  - Fábio Rocha / TV Globo - Fábio Rocha / TV Globo
Meninas de 'Malhação' voltarão em um spin-off chamado 'As Five'
Imagem: Fábio Rocha / TV Globo

Agora, as atrizes mal conseguem segurar a ansiedade não só para a reprise, mas também para a estreia de "As Five", que retornará às personagens, mas anos depois, agora já adultas. A série ainda não tem uma data de estreia —nem as protagonistas sabem—, mas As Five, que se tornaram amigas também na vida real, dão algumas pistas do que podemos aguardar.

"Consegui assistir a alguns pedacinhos e um dos nossos objetivos era construir essas personagens mais maduras, em um lugar adulto. A série não é uma trama adolescente. Assistindo consegui ver o quanto essas mulheres cresceram, estão em outro lugar. A gente conseguiu trazer essa maturidade para a cena e está muito bonito", anima-se Ana Hikari.

"A gente vai conseguir se reconectar com essa história que ficou lá atrás. Se a gente fosse assistir a série sem a 'Malhação', é outra experiência. Elas não perdem a essência delas, mas é muito legal ver o quanto elas crescem, o quanto amadurecem e mudam. É muito engraçado, a gente vai ver coisas que ficam até contraditórias com a época da adolescência delas", complementa Gabriela Medvedovski.