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Vice-Miss SP registra BO após denunciar racismo: 'Para cortar pela raiz'

A Miss Guarulhos Ieda Favo denunciou o racismo sofrido no Miss Universo São Paulo - Reprodução/Instagram
A Miss Guarulhos Ieda Favo denunciou o racismo sofrido no Miss Universo São Paulo Imagem: Reprodução/Instagram

Ane Cristina

Do UOL, em São Paulo

13/10/2021 21h06Atualizada em 13/10/2021 21h42

Após denunciar ter sofrido racismo durante sua participação no Miss Universo São Paulo, Ieda Favo registrou Boletim de Ocorrência na DECRADI (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância). Ao UOL, a jovem disse que optou por formalizar a denúncia para que outras pessoas não passem pelo mesmo que ela.

Além de Miss Guarulhos, eu dou palestra de vendas, treino as meninas que querem entrar no mundo da moda, dou todo esse suporte. Eu imaginei qualquer uma dessas meninas que eu oriento passando pelo tipo de situação que eu passei. Para cortar isso pela raiz, eu pensei, vou relatar [o que houve] para que as pessoas saibam declarou a Miss Guarulhos, de 26 anos.

Na semana passada, Ieda, que foi vice no concurso estadual, publicou no Instagram um vídeo relatando o tratamento discriminatório recebido.

Segundo a modelo e atriz, além do tratamento ríspido, era sempre solicitado que ela ficasse atrás nas fotos. Ela contou também que, no dia do concurso, os produtos específicos para seu cabelo demoraram a chegar, o que prejudicou sua preparação.

Ieda afirma que durante a transmissão ao vivo, o coreógrafo do evento a puxou de forma brusca, o que resgatou traumas de sua infância e adolescência.

"Eu tinha padrasto e eu era espancada por ele. Ele batia em mim, batia na minha mãe também", contou. Eu entendi que ele [coreógrafo] fez isso para expor meu erro. Quando ele me puxou pelo braço, eu fiquei muito desnorteada, eu não sabia como agir", contou ao UOL.

Já na final, ao lado da Miss Jaú e Miss Ribeirão Preto, Ieda foi a única que teve uma pergunta feita de última hora. Segundo ela, a pergunta feita pelos jurados não estava na lista de 13 possíveis questionamentos enviada pela organização antes do concurso.

A Miss Guarulhos também disse que, durante o concurso, conversou com Éder Ignácio, coordenador do evento.

"Eu me senti humilhada, falei com essas palavras. Depois que eu publiquei o vídeo, ele me ligou. Eu disse que tinha falado com ele. Ele até tentou conversar comigo, como se fosse para insinuar para eu tirar o vídeo ou mudar algumas palavras. Infelizmente, ninguém que estava na organização modificou o comportamento", afirmou.

O outro lado

Ao UOL, Éder enviou um comunicado declarando lamentar o ocorrido. Ele disse ainda estar à disposição para que eles "resolvam juntos" a situação.

De antemão eu lamento profundamente essa situação e qualquer coisa que tenha causado essa impressão ou de fato essa dor na Ieda. Repúdio, e repudiamos qualquer situação de segregação que seja, racial, socioeconômica, gênero.

Nossa equipe foi cuidadosamente selecionada e orientada a proporcionar sempre o respeito, acolhimento e equidade.

Me coloquei a disposição da Ieda para que ela me citasse nomes de forma que pudéssemos punir de forma efetiva qualquer membro da equipe que tenha lhe causado tamanho mal, mas até o presente momento ela não me retornou com dados, tudo o que mais quero é que tudo isso se resolva e que ela não acumule mais nenhum trauma em sua jornada. Eu deixei claro a ela através de mensagem sem retorno e ligação que estou a disposição para resolvermos juntos. Éder Ignácio

A reportagem também questionou a organização do Miss Universo São Paulo sobre a pergunta feita à modelo durante o evento. A organização disse que todos os fatos ainda estão sendo apurados, e que por enquanto o pronunciamento oficial é a nota acima.

Sororidade

Apesar dos pontos negativos em sua participação no concurso, Ieda se surpreendeu com o apoio de outras candidatas.

"Eu conversei com elas no dia seguinte ao evento, quando eu nunca me vi chorando, tanto porque contei para elas do rapaz que me puxou pelo braço. E eu expliquei para elas o que aconteceu e me apoiaram, demonstraram sororidade e eu fiquei muito feliz com isso", contou.

Ela, no entanto, não pretende participar novamente de um concurso de beleza.

"Não pretendo mesmo. Eu estava morando em Nova York antes de vir pra cá e eu acabei ficando presa aqui por conta da pandemia. Meu amigo que acabou me inscrevendo [no concurso]. Meu desejo é voltar para os Estados Unidos e continuar minha carreira de atriz", disse Ieda, que fez uma participação na terceira temporada de "Maravilhosa Sra. Maisel" (Prime Video) e deve retornar na próxima temporada.

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 180 e denuncie.

Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — a Central de Atendimento à Mulher, que funciona em todo o país e no exterior, 24 horas por dia. A ligação é gratuita. O serviço recebe denúncias, dá orientação de especialistas e faz encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico. O contato também pode ser feito pelo WhatsApp no número (61) 99656-5008.

A denúncia também pode ser feita pelo Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.

Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e a página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses.

Caso esteja se sentindo em risco, a vítima pode solicitar uma medida protetiva de urgência.