Lições da cobertura da TV dos casos de Neymar e Rafael Miguel
No intervalo de pouco mais de uma semana, dois acontecimentos de grande apelo midiático dominaram a televisão. Primeiro, a acusação de estupro feita ao jogador Neymar. Em seguida, o bárbaro assassinato do jovem ator Rafael Miguel e de seus pais durante visita à casa da namorada do garoto.
Os dois assuntos ocuparam quase todos os poros da TV – os programas jornalísticos sérios, os policiais vespertinos e os de fofoca.
Quem se expôs a uma dieta baseada em programas policiais sofreu mais do que os demais. O caso de Neymar gerou, inicialmente, dois tipos de cobertura condenáveis. Primeiro, uma destinada a passar a mão na cabeça do jogador, chamando-o de "menino" e praticamente o isentando de culpa antecipadamente. Segundo, em sentido inverso, um acompanhamento do caso que abraçou a versão da vítima igualmente sem questionamentos sobre eventuais contradições e histórias mal contadas.
No caso da morte de Rafael Miguel e seus pais, a "personagem" que simbolizou a cobertura foi a namorada do rapaz, uma jovem de 18 anos. Sua vida foi devassada de uma forma avassaladora nestes últimos dias. Houve quem tenha tentado "adotá-la", tratando como se fosse um parente, sem cuidado com o impacto desta exposição da imagem da jovem.
O espectador pode tomar o partido que quiser em histórias como essas duas. Mas cabe a quem faz jornalismo, mesmo com pitadas sensacionalistas, buscar a máxima isenção. Também é necessário ter cuidado com a exposição dada a figuras que não são públicas. "Ah, mas a fulana queria aparecer", alguém poderá dizer sobre a mulher que acusou Neymar. Ou sobre a namorada de Rafael. Pode ser, mas isso não justifica o tratamento sensacionalista que essas duas mulheres e outros envolvidos indiretamente no caso ganharam.
Entendo que a disputa pela audiência obrigue os profissionais da mídia a tomarem decisões muito rápidas. Mas a pressa em noticiar antes dos concorrentes frequentemente causa problemas – erros factuais, informações inconsistentes, exageros, visões deturpadas. Todo mundo perde quando isso ocorre.
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