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Lições da cobertura da TV dos casos de Neymar e Rafael Miguel

Mauricio Stycer

16/06/2019 05h01

Najila Trindade deixa a delegacia após prestar depoimento. Imagem: Reuters/Amanda Perobelli

No intervalo de pouco mais de uma semana, dois acontecimentos de grande apelo midiático dominaram a televisão. Primeiro, a acusação de estupro feita ao jogador Neymar. Em seguida, o bárbaro assassinato do jovem ator Rafael Miguel e de seus pais durante visita à casa da namorada do garoto.

Os dois assuntos ocuparam quase todos os poros da TV – os programas jornalísticos sérios, os policiais vespertinos e os de fofoca.

Quem se expôs a uma dieta baseada em programas policiais sofreu mais do que os demais. O caso de Neymar gerou, inicialmente, dois tipos de cobertura condenáveis. Primeiro, uma destinada a passar a mão na cabeça do jogador, chamando-o de "menino" e praticamente o isentando de culpa antecipadamente. Segundo, em sentido inverso, um acompanhamento do caso que abraçou a versão da vítima igualmente sem questionamentos sobre eventuais contradições e histórias mal contadas.

No caso da morte de Rafael Miguel e seus pais, a "personagem" que simbolizou a cobertura foi a namorada do rapaz, uma jovem de 18 anos. Sua vida foi devassada de uma forma avassaladora nestes últimos dias. Houve quem tenha tentado "adotá-la", tratando como se fosse um parente, sem cuidado com o impacto desta exposição da imagem da jovem.

O espectador pode tomar o partido que quiser em histórias como essas duas. Mas cabe a quem faz jornalismo, mesmo com pitadas sensacionalistas, buscar a máxima isenção. Também é necessário ter cuidado com a exposição dada a figuras que não são públicas. "Ah, mas a fulana queria aparecer", alguém poderá dizer sobre a mulher que acusou Neymar. Ou sobre a namorada de Rafael. Pode ser, mas isso não justifica o tratamento sensacionalista que essas duas mulheres e outros envolvidos indiretamente no caso ganharam.

Entendo que a disputa pela audiência obrigue os profissionais da mídia a tomarem decisões muito rápidas. Mas a pressa em noticiar antes dos concorrentes frequentemente causa problemas – erros factuais, informações inconsistentes, exageros, visões deturpadas. Todo mundo perde quando isso ocorre.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.