Emocionado, Milton Gonçalves se despede de Ruth de Souza: "Uma grande dor"
Bastante emocionado, Milton Gonçalves falou sobre a amizade e o talento de Ruth de Souza, no velório que aconteceu na manhã de hoje no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A atriz, que estava internada, morreu ontem aos 98 anos em decorrência de uma piora em seu quadro de pneumonia.
"Nós estávamos havia uma semana conversando, participando de espetáculos e quando a gente se manifesta assim fica parecendo que estamos querendo aparecer. Não quero aparecer. Nós somos trabalhadores, somos pessoas que, na medida do possível, damos uns saltos para a massa, para o povo. Ela foi embora, então foi embora um talento, essa é a grande dor. Foi embora uma atriz, uma pessoa maravilhosa, uma amiga, uma pessoa sorridente e sempre muito feliz".
O ator se lembrou dos últimos momentos de descontração com a amiga Ruth de Souza.
"Há uma semana estávamos lá conversando, todos rindo com a patota, de repente vem Deus e leva. Se é justo? Não sei, mas levaram. Não é a primeira pessoa que perdi nesse prédio. É uma dor sempre muito grande, mas a gente sabe que mais hoje, mais amanhã, Deus nos chama. E que Deus a chame com muito afeto", disse ele, que interrompeu a fala por não conter as lágrimas.
No velório, Tony Tornado falou sobre a importância de Ruth enquanto artista que combatia o racismo e como o trabalho dela abriu portas.
"Ela foi a primeira e é a razão de tudo isso que está acontecendo com a gente. Com a nossa profissão, principalmente. É muito difícil falar porque a importância dela é maior do que tudo o que está acontecendo. O momento é muito triste", lamentou o ator.
Lázaro Ramos e Taís Araújo chegaram bem abalados ao velório de Ruth, alguns minutos antes do encerramento. "Ela vai fazer muita falta, a gente sabe que ela viveu bastante, ela é um exemplo pra gente. Ela recebia muito a gente na casa dela, todos os atores jovens que queria ir lá e ter um momento de palavra dela. Ela lúcida até o fim, contando história, vai fazer falta. Fui abençoado de ter ela na minha vida, graças a Deus. Ela é única, nunca mais teremos uma igual", disse o ator, emocionado.
"Fica mais pobre, muito pior sem a Ruth. Ela deixa um legado muito importante, que a gente tem que pegar e seguir. Fico muito honrada de ter convivido com ela também", falou Taís Araújo.
Juliana Alves lembrou o lado bem humorado da atriz: "Ela estava sempre com o coração aberto aos que vinham, tinha um sorriso no rosto e dizia para a gente falar 'alface' antes das fotos para o sorriso sair mais bonito (risos). A gente nunca vai esquecer dela, ela queria que nos sentíssemos sempre belos, potentes. Hoje, o momento é de dor, mas em nome dela, a gente vai seguir na luta".
Isabel Filardis chorou ao lembrar a importância de Ruth de Souza para a classe artística negra. "Ela tinha a preocupação da gente não sofrer e de que nós estivéssemos de mãos dadas, ela era muito lúcida, bem-humorada, atenta a tudo, a questões políticas e sociais, sem nunca perder o sorriso da face".
A atriz Nathália Timberg também prestou o seu último adeus a Ruth de Souza. Ela se lembrou de quando a conheceu, em 1948.
"Eu estava no teatro universitário, ela estava participando, lutando, sendo a alma do teatro experimental do negro e foi quando eles começaram a batalhar para trazer o ator negro do Brasil a posição que ele tem por direito. Pelo que ele é, não pela etnia em si, mas pelo grande talento e pelo muito que tem a contribuir na formação da nossa cultura. Acredito na igualdade realmente e eu não consigo entender a cultura separada por barreiras de etnia", afirmou.
Antes de ser o ser humano que ela era, antes de ser a grande atriz que ela era, ela foi uma grande pessoa das artes e no geral uma lutadora, uma mulher consciente do seu valor e dos valores dos seus. E com uma qualidade, 'o ator vale o homem', ela é um exemplo vivo disso
A sobrinha Glória Maria de Souza e a irmã, Maria Pinto Souza, 94 anos, estavam bastante abaladas e falaram sobre o lado família de Ruth.
"É muita saudade, ao mesmo tempo a gente compreende porque são 98 anos muito bem vividos. Ela realizou todos os sonhos que pôde para ela e para a família. Sempre nos preservou muito e esteve presente em todos os momentos. Sempre nos ajudou bastante", disse Glória.
"Minha mãe e a tia Ruth eram muito amigas. Elas têm idades próximas, minha mãe está com 94 anos, eu estava ali com medo desse momento, mas ela está compreendendo e reagindo bem, graças a Deus", completou ela.
Maria Souza chorou ao falar da irmã: "Minha irmã era tudo para mim, não tenho nem palavras, não consigo nem falar, perdi uma amiga, perdi uma irmã. Era alegre demais".
O enterro está marcado para ocorrer a partir das 16h30 no Crematório e Cemitério da Penitência, no bairro do Caju, no Rio de Janeiro. A cerimônia será reservada para familiares e amigos.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.