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Emocionado, Milton Gonçalves se despede de Ruth de Souza: "Uma grande dor"

Ator Milton Gonçalves no velório da atriz Ruth de Souza, realizado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro - Daniel Pinheiro/AgNews
Ator Milton Gonçalves no velório da atriz Ruth de Souza, realizado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro Imagem: Daniel Pinheiro/AgNews

Marcela Ribeiro

Do UOL, no Rio

29/07/2019 11h16

Bastante emocionado, Milton Gonçalves falou sobre a amizade e o talento de Ruth de Souza, no velório que aconteceu na manhã de hoje no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A atriz, que estava internada, morreu ontem aos 98 anos em decorrência de uma piora em seu quadro de pneumonia.

"Nós estávamos havia uma semana conversando, participando de espetáculos e quando a gente se manifesta assim fica parecendo que estamos querendo aparecer. Não quero aparecer. Nós somos trabalhadores, somos pessoas que, na medida do possível, damos uns saltos para a massa, para o povo. Ela foi embora, então foi embora um talento, essa é a grande dor. Foi embora uma atriz, uma pessoa maravilhosa, uma amiga, uma pessoa sorridente e sempre muito feliz".

O ator se lembrou dos últimos momentos de descontração com a amiga Ruth de Souza.

"Há uma semana estávamos lá conversando, todos rindo com a patota, de repente vem Deus e leva. Se é justo? Não sei, mas levaram. Não é a primeira pessoa que perdi nesse prédio. É uma dor sempre muito grande, mas a gente sabe que mais hoje, mais amanhã, Deus nos chama. E que Deus a chame com muito afeto", disse ele, que interrompeu a fala por não conter as lágrimas.

No velório, Tony Tornado falou sobre a importância de Ruth enquanto artista que combatia o racismo e como o trabalho dela abriu portas.

"Ela foi a primeira e é a razão de tudo isso que está acontecendo com a gente. Com a nossa profissão, principalmente. É muito difícil falar porque a importância dela é maior do que tudo o que está acontecendo. O momento é muito triste", lamentou o ator.

Lázaro Ramos e Taís Araújo chegaram bem abalados ao velório de Ruth, alguns minutos antes do encerramento. "Ela vai fazer muita falta, a gente sabe que ela viveu bastante, ela é um exemplo pra gente. Ela recebia muito a gente na casa dela, todos os atores jovens que queria ir lá e ter um momento de palavra dela. Ela lúcida até o fim, contando história, vai fazer falta. Fui abençoado de ter ela na minha vida, graças a Deus. Ela é única, nunca mais teremos uma igual", disse o ator, emocionado.

"Fica mais pobre, muito pior sem a Ruth. Ela deixa um legado muito importante, que a gente tem que pegar e seguir. Fico muito honrada de ter convivido com ela também", falou Taís Araújo.

Juliana Alves lembrou o lado bem humorado da atriz: "Ela estava sempre com o coração aberto aos que vinham, tinha um sorriso no rosto e dizia para a gente falar 'alface' antes das fotos para o sorriso sair mais bonito (risos). A gente nunca vai esquecer dela, ela queria que nos sentíssemos sempre belos, potentes. Hoje, o momento é de dor, mas em nome dela, a gente vai seguir na luta".

Isabel Filardis chorou ao lembrar a importância de Ruth de Souza para a classe artística negra. "Ela tinha a preocupação da gente não sofrer e de que nós estivéssemos de mãos dadas, ela era muito lúcida, bem-humorada, atenta a tudo, a questões políticas e sociais, sem nunca perder o sorriso da face".

A atriz Nathália Timberg também prestou o seu último adeus a Ruth de Souza. Ela se lembrou de quando a conheceu, em 1948.

"Eu estava no teatro universitário, ela estava participando, lutando, sendo a alma do teatro experimental do negro e foi quando eles começaram a batalhar para trazer o ator negro do Brasil a posição que ele tem por direito. Pelo que ele é, não pela etnia em si, mas pelo grande talento e pelo muito que tem a contribuir na formação da nossa cultura. Acredito na igualdade realmente e eu não consigo entender a cultura separada por barreiras de etnia", afirmou.

Antes de ser o ser humano que ela era, antes de ser a grande atriz que ela era, ela foi uma grande pessoa das artes e no geral uma lutadora, uma mulher consciente do seu valor e dos valores dos seus. E com uma qualidade, 'o ator vale o homem', ela é um exemplo vivo disso

A sobrinha Glória Maria de Souza e a irmã, Maria Pinto Souza, 94 anos, estavam bastante abaladas e falaram sobre o lado família de Ruth.

"É muita saudade, ao mesmo tempo a gente compreende porque são 98 anos muito bem vividos. Ela realizou todos os sonhos que pôde para ela e para a família. Sempre nos preservou muito e esteve presente em todos os momentos. Sempre nos ajudou bastante", disse Glória.

"Minha mãe e a tia Ruth eram muito amigas. Elas têm idades próximas, minha mãe está com 94 anos, eu estava ali com medo desse momento, mas ela está compreendendo e reagindo bem, graças a Deus", completou ela.

Maria Souza chorou ao falar da irmã: "Minha irmã era tudo para mim, não tenho nem palavras, não consigo nem falar, perdi uma amiga, perdi uma irmã. Era alegre demais".

O enterro está marcado para ocorrer a partir das 16h30 no Crematório e Cemitério da Penitência, no bairro do Caju, no Rio de Janeiro. A cerimônia será reservada para familiares e amigos.