Roberto Justus está de volta ao lugar de onde nunca devia ter saído
Mauricio Stycer
24/03/2019 05h01
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Exibido pela última vez em 2014, "O Aprendiz" retornou à TV brasileira nesta segunda-feira (18), agora na Band. Ainda que tenha sido um sucesso comercial, com todas as cotas de publicidade vendidas, a audiência da estreia foi muito ruim (1,4 de média). Para quem é fã Roberto Justus, a boa notícia é ver que ele está de volta ao habitat que nunca deveria ter abandonado.
Empresário vaidoso, Justus encontrou na televisão, em 2004, o palco perfeito para exibir os seus talentos. No comando da franquia brasileira de "O Aprendiz", na Record, conquistou o público com lições de autoajuda empresarial combinadas com pitos humilhantes nos participantes.
Vendendo a imagem de homem de sucesso, temperando suas aulas com termos em inglês, ternos sempre bem cortados e um topete inconfundível, Justus construiu a reputação de grande comunicador, uma espécie de Trump brasileiro – e acreditou que fosse capaz de encarar qualquer desafio na televisão. Foi o seu erro.
Com autoestima elevadíssima, Justus abandonou "O Aprendiz", em 2009, para apresentar game-shows no SBT – "Um Contra Cem" e "Topa ou Não Topa". Foi para ficar quatro anos, mas voltou à Record depois de dois. E retomou o comando do "Aprendiz", na sua ausência ocupado por João Doria.
Ao final de 2014, depois de exibir uma nona temporada do programa, a primeira dedicada a celebridades, a Record decidiu cancelar o "Aprendiz". E convidou Justus a comandar "A Fazenda", no lugar de Britto Jr. Foi um péssimo passo, mas o apresentador não se deu conta. E ainda aceitou outro desafio improvável da emissora, comandar o "Power Couple".
Entre 2015 e 2017, esteve à frente de duas temporadas do reality rural e duas do reality de casais. Foi mal em todas, mas não admitiu. Só foi reconhecer a encrenca em que se meteu ao ser dispensado pela Record, em 2018.
Após adquirir os direitos do formato do "Aprendiz" no Brasil, Justus encontrou abrigo na Band. Agora em março, na nova emissora, voltou a fazer o que sabe e gosta. A audiência da estreia deixou a Band em quinto lugar, atrás de Globo, Record, SBT e RedeTV!, o que foi bem decepcionante. Mas espero que ele não desanime e dê a volta por cima.
"Voltei a tratar daquilo que mais me atrai na minha vida profissional, empreendedorismo", disse na estreia, feliz da vida. "Eu sou implacavelmente exigente", avisou aos candidatos, um time de influenciadores digitais. Na mesa de reunião, dedicou a Jessica Belcost o seu mais famoso bordão: "Você está demitida".
Com a autoestima sempre em alto nível, informou aos participantes que o grupo vencedor de uma prova ganharia um ótimo prêmio. "A recompensa é bem legal. E me envolve. Então, vai ser bem legal." Isso é puro Roberto Justus.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
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