Mães contam como Gugu transformou as suas vidas: "Era um anjo"
Resumo da notícia
- Enterro de Gugu Liberato acontece hoje (29) no Cemitério Gethsêmani, em SP
- O apresentador ajudou as mães Adriana dos Santos e Ivanise Esperidião
- Adriana foi presenteada com uma casa mobiliada após adotar cinco crianças pequenas
- Ivanise ganhou mais de R$ 50 mil e comprou a sede do Movimento Mães da Sé
Gugu Liberato, que morreu aos 60 anos há uma semana, impulsionou carreiras de muitos artistas, mas foi graças a anônimos, principalmente pessoas mais humildes, que ele virou um ídolo. Depois de um velório de quase 24 horas, o corpo do apresentador será enterrado hoje (29) no Cemitério Gethsêmani, no Morumbi, zona sul de São Paulo. Fãs de diversas regiões do país estavam lá para o último adeus.
Adriana dos Santos e Ivanise Esperidião têm mais em comum do que serem mães. Ambas tiveram suas vidas transformadas após passarem pelos programas de Gugu, no SBT e na Record. Adriana salvou cinco irmãos de serem despejados em um abrigo. Ivanise perdeu a filha e criou o Movimento Mães da Sé, que ajuda a encontrar desaparecidos.
A vendedora Adriana, de Sorocaba, interior de São Paulo, conta que foi procurada há sete anos pela produção do Programa do Gugu, na Record, após reportagem do UOL sobre a iniciativa dela de adotar os irmãos ao mesmo tempo. A mãe das crianças, lembra Adriana, havia sido presa e elas não tinham com quem ficar.
"Nunca pensei em adotar, mas eu não tive opção, pois senão os irmãos seriam separados", recorda.
Adriana vivia em condições difíceis, mas no palco do programa ganhou uma casa mobiliada e um ano de compras em um supermercado. "Gugu falou que eu tinha ganhado a casa pelo meu gesto. Acho que ele pensou que eu fosse igual a ele. Ele era um anjo", afirma.
A vendedora mora atualmente com quatro filhos e o marido na mesma casa que ganhou de Gugu.
Ele mudou a nossa vida para melhor. Temos conforto e hoje trabalhamos para comer, e não mais para reformar a casa. A outra tinha até goteira. Hoje temos uma vida boa e menos miserável. Todo mundo aqui é feliz
Adriana dos Santos, vendedora
Adriana diz o que mais gosta da residência e expressa seu agradecimento a Gugu Liberato. "O que mais amo é a minha suíte! E também a sala, que tem uma mesa para oito pessoas e cabem todos os filhos. Minha casa até hoje é conhecida como a casa do Gugu. É o ponto de referência, todo mundo conhece. Tenho uma gratidão eterna por ele".
Gugu abraçou a luta das Mães da Sé
Em busca da filha desaparecida, Ivanise Esperidião criou o Movimento Mães da Sé, em 1996, após descobrir que o drama de outras mulheres era semelhante ao seu. Ela, que chegou a participar da novela Explode Coração dando o seu depoimento, foi parar no Domingo Legal, em 2001.
Durante um ano, o programa de maior sucesso de Gugu, no SBT, fez uma campanha para ajudar Ivanise e as mães que se reúnem até hoje nas escadarias da Catedral da Sé, no centro de São Paulo, com os cartazes de seus filhos desaparecidos.
"Gugu ficou sensibilizado de ver as histórias das mães. Acredito que ele não conhecia aquela realidade de perto. Ele decidiu que a partir dali nasceria uma campanha. Todos os domingos levávamos seis mães e ele divulgava as crianças e adolescentes desaparecidos", recorda.
A audiência era tão grande que descobrimos um rapaz que tinha sido dado para adoção que estava com leucemia e precisava encontrar a mãe biológica para ver se tinha compatibilidade para doação de medula. E conseguimos encontrar a mãe biológica dele
Ivanise Esperidião, fundadora do Movimento Mães da Sé
Ela afirma que a produção do Domingo Legal disponibilizava um carro para que fossem checadas as informações recebidas a cada programa. "Não tinha uma semana que não encontrássemos pelo menos um desaparecido. Ele foi se envolvendo cada vez mais com a causa porque viu que estava dando frutos."
Ao fim da campanha, Ivanise não conseguiu localizar a própria filha —que ela busca até hoje—, mas a ajuda de Gugu, enfatiza, foi fundamental para o sucesso do movimento social e o fim do sofrimento de tantas mães.
"A mulher dele já estava grávida do primeiro filho. Acho que ser pai também o sensibilizou. Era uma pessoa extremamente amorosa. Foi graças a essa porta que ele abriu que muitas mães encontraram os seus filhos", afirma.
Ele realizou um comercial de remédios genéricos do Ministério da Saúde e doou todo o valor para a associação, que era de R$ 52.239,00. Coloquei o dinheiro numa aplicação e depois de seis meses compramos uma casa, que é onde hoje funciona a sede das Mães da Sé, em Pirituba, São Paulo. Foi o primeiro programa de televisão que abraçou a causa do desaparecimento. Ele tinha carinho, respeito e solidariedade pelas mães
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