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Associação de médicos pró-cloroquina perde processo contra Globo

A Associação Médicos pela Vida pediu direito de resposta no "Fantástico" - João Cotta/Globo
A Associação Médicos pela Vida pediu direito de resposta no "Fantástico" Imagem: João Cotta/Globo

Marina Marini

Do UOL, em São Paulo

15/10/2021 11h03

A Associação Médicos pela Vida, que apoia "tratar precocemente as pessoas acometidas pela covid-19" — como diz em seu próprio site —, perdeu um processo que movia contra a TV Globo.

Na ação, que tramita desde maio deste ano na 29ª Vara Cível de São Paulo, a organização pedia direito de resposta ao "Fantástico" por uma reportagem sobre tratamento precoce contra a covid-19 veiculada em 28 de março. Além disso, também pedia o valor de R$ 10 mil.

O UOL teve acesso à decisão, assinada pela juíza Daniela Dejuste de Paula e publicada em 30 de setembro.

No documento, ela explica que a Associação não foi citada na reportagem em questão. O órgão, por sua vez, alegou que a "veiculação unilateral acerca da ineficácia do tratamento precoce contra a covid-19 teria atingido a honra de todos os médicos que o prescrevem e dos cientistas que o defendem."

Ainda assim, a magistrada reforça que a reportagem exibida pelo programa "corretamente indica — como tantas outras disponíveis na internet — que estudos científicos descartaram qualquer influência da utilização de hidroxicloroquina e de ivermectina na melhora do quadro clínico de pacientes com covid-19. Trata-se de informação verdadeira, que não deve ser tratada com leviandade."

Evidentemente, não há que se falar em violação ao dever de informação. A reportagem contestada cumpre com o dever de informar fatos sob a ótica jornalística sem imputar fato a pessoa determinada ou à associação autora. diz a decisão

Ao julgar improcedente o pedido, a juíza também discursou sobre os "estudos que afastaram a eficácia de medicamentos como a hidroxicloroquina e a ivermectina no enfrentamento à doença."

Causa espanto, no mínimo, que uma entidade como a autora, que deveria concentrar esforços no sentido de defender a saúde, entendida em sentido amplo, atue de maneira temerária em favor de interesses escusos, contrários à coletividade e à própria finalidade. Causa espanto que ainda haja profissionais da saúde dispostos a se valer de informações falsas em detrimento da saúde de seus pacientes. finalizou Daniela

Além da perda da causa, a Associação também foi condenada a pagar as custas, despesas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% do valor da causa.

Procuradas pela reportagem via assessoria de imprensa, a Associação Médicos pela Vida e a TV Globo não se pronunciaram sobre o assunto até o momento da publicação desta nota.

Tratamentos sem eficácia comprovada

Não há comprovação científica para a eficácia de medicamentos que possam impedir ou remediar a ação do vírus antes da infecção.

Desde dezembro de 2020, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que a hidroxicloroquina não seja usada por pacientes com qualquer grau de gravidade de covid. A organização também orienta desde março de 2021 que a ivermectina não seja administrada, a não ser em ensaios clínicos.

A OMS não tem uma diretriz para o uso de azitromicina. Uma pesquisa feita no Reino Unido ao longo de 2020 com mais de 7 mil participantes mostrou que, entre pacientes internados com covid, o medicamento não foi responsável por qualquer melhora na mortalidade.

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