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Adrilles: Desejos contrariados, ódios consumados

O ator Juliano Laham catapultou sentimentos e desconfianças dos habitantes da casa - Reprodução/TV Globo
O ator Juliano Laham catapultou sentimentos e desconfianças dos habitantes da casa Imagem: Reprodução/TV Globo

Adrilles Jorge

Colaboração para o UOL

21/03/2016 14h13

Chama-se, em psicanálise, ‘’Superego’’ a parte da psique humana responsável pelos valores morais e censura. No popular, a vergonha na cara. E de ‘’ID’’ a parte dos desejos e pulsões inconscientes. O princípio de prazer, ou seja, a safadeza sem freios.

O ator Juliano Laham foi enviado da consciência da direção perversa do “BBB” pra fazer com que o ID (a safadeza) comesse o superego (a vergonha) dos participantes, liberando suas safadezas ocultas - ou nem tão ocultas assim.

Deu certo. Com nervos e desejos e desconfianças à flor da pele, os habitantes deste “BBB16” se deixaram revelar no convívio com o segredo obscuro do ator galã, que catapultou sentimentos, desejos e desconfianças dos habitantes da casa.

A começar pela falta de segredo de Munik e seu superego quase inexistente. O banquete de seus apetites sexuais e afetivos ficou (mais) exposto pela iguaria do rapaz posta à mesa. Teria devorado o sujeito, não tivesse acabado o sonho em dois dias, ante a revelação do desejo atuado do rapaz.

20.mar.2016 - Munik e Laham se beijam na piscina do "BBB16" - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Os desejos de Munik ficaram ainda mais expostos com a chegada de Laham
Imagem: Reprodução/TV Globo


Pobre moça. De seus dois interesses no programa, um, de sexualidade retroativa e enganosa, encenou um desejo inexistente. O outro encenou um mesmo desejo fabricado por profissão. A direção do “BBB” traumatizou a menina para sempre. Não adianta um ID avantajado se as circunstâncias desfavoráveis fazem às vezes do superego inexistente.

Se Munik fez eclodir seus desejos, Ronan mostrou o pior lado de seu desejo contrariado: o ciúme, embalado pela inveja ressentida. Insultou Munik, insultou a todos, desaforou o ator, deu piti em defesa de sua virtude de ser preterido em nome de outro pelo desejo das moças da casa. Aliado ao destempero pela rejeição, Ronan ainda se viu ameaçado no jogo.

Fatal a ameaça por rejeição amorosa e financeira. Rejeitado historicamente, como criança abandonada, Ronan transformou a rejeição ampla em ressentimento. Assim nascem os vilões. Ou os heróis abnegados. Cabe a Ronan escolher daqui pra frente. Por enquanto, escolheu um sorriso perverso de satisfação ao ter a notícia de que o ator Laham encenou seu desejo por Munik.

Por fim, sobraram os desejos, intenções e mesquinharias óbvias de Matheus, Cacau e Geralda. Estes não se revelaram em nada mesmo. Gritaram o que todos já percebiam através de suas interpretações nada convincentes, utilizando Laham como instrumento de grito catártico.

Cacau trocou sua vitimização romântica pelo desejo consciente pelo ator, esquecendo Matheus (que, por nunca ter se lembrado de fato da menina, nem se tocou). O romantismo da moça é coletivo e varia rapidamente de personagem, pelo visto.

Geralda catou os ouvidos de Laham para fazer suas acusações contra seu outrora querido neto afetivo Matheus. ‘’Falso!’’, bradou a senhora, que nada disse sobre a autenticidade duvidosa de seu afeto pelo rapaz, que vigorava até o momento deste quase final de jogo.

E Matheus explodiu em ódio por Geralda, retribuindo a acusação da senhora: ‘’Falsa!’’

Definitivamente, algo de verdadeiro une estes dois personagens na mútua percepção de falsidade que um tem do outro.

O Superego - a censura - esconde o ID, o princípio do prazer a todo custo, que fica confinado. No confinamento de semanas do “BBB”, a vontade de prazer - satisfeita ou contrariada - escapa. Sob forma de desejo libertado ou ódio desesperado pelo desejo não consumado. O “BBB” é uma aula prática de teoria psicanalítica, não?